
Os restos mortais de um idoso estiveram três meses numa casa em Vila de Rei, à espera de acordo entre a Junta de Freguesia do Souto, Abrantes, e a família do defunto, que exige ser ressarcida dos prejuízos causados por um vendaval que destruiu o jazigo e a urna.
Quando, no dia 23 de Dezembro de 2009, uma árvore de grande porte tombou no cemitério da freguesia do Souto, por causa do mau tempo, arrasando um jazigo e destruindo o caixão onde se encontrava, há dez anos, o corpo de um homem de 69 anos, João Barquinha, genro do defunto, estava longe de imaginar os problemas que daí resultariam, sobretudo a dor para a família.
"A tumba de mármore e o caixão de madeira ficaram partidos. Só se salvou o invólucro de chumbo que protegia o corpo. Os prejuízos ultrapassam os 12500 euros. E quem tem de pagar é a Junta de Freguesia do Souto, dona do cemitério, e não nós, que não temos culpa nenhuma", disse ontem, ao JN, João Barquinha, no preciso momento em que regressava ao Seixal, onde reside, após a sua sexta viagem a Abrantes, para tentar resolver o assunto.
Na sequência do incidente, houve necessidade de adquirir um novo caixão para depositar os restos mortais. Um agente funerário, de Vila de Rei, julgando que o problema se resolvia em dois ou três dias, aceitou guardar a urna, com o corpo, num anexo de sua casa. Só ontem, devido à presença de jornalistas no Souto, é que os restos mortais foram transferidos da casa privada, a título provisório, para um jazigo de acolhimento, no cemitério do Souto.
"A Junta de Freguesia tem andado num 'jogo' connosco, não quer pagar os prejuízos - diz que não tem culpa, nem dinheiro -, nem se tem preocupado em levar o corpo para um jazigo de acolhimento. Só agora, face à presença da comunicação social, é que começou a dar mostras de querer resolver o problema, mas fomos nós que tratámos de arranjar um local provisório para depositar os restos mortais. Mas o problema não está resolvido", assegura João Barquinha, sublinhando que o caixão está num jazigo emprestado por uma senhora, "mas apenas por dois ou três dias".
Evitar a má imagem
O genro do defunto lamenta que o presidente da Junta se tenha "apenas preocupado em ver dali retirado o cadáver quando o acidente ocorreu, uma vez que era altura de Natal, época de muitas visitas ao cemitério, e dava má imagem ter ali um caixão naquele estado".
"A árvore era grande de mais para estar dentro do cemitério e a Junta é que tinha de antecipar este tipo de problemas. Não o fazendo, deve assumir as suas responsabilidades".
À Lusa, o presidente da Junta de Freguesia do Souto, Diogo Valentim, afirmou que este episódio "é tristonho e até caricato" e que tem "tentado ajudar" a família do defunto na resolução do problema "dentro das disponibilidades financeiras, que são poucas".
O autarca diz que "já foi solicitada ajuda financeira à Câmara de Abrantes e ao Governo Civil de Santarém. Ao JN, a presidente da Câmara de Abrantes, Maria do Céu Albuquerque, lamentou este "triste episódio", que "não dignifica o concelho, nem as pessoas", e garantiu que o problema "está resolvido". "A Junta pediu-nos apoio, porque os prejuízos ascendem a 20 mil euros e a Freguesia não tem esse dinheiro. Dada a especificidade do assunto, o Município vai pagar essa verba", assegurou. A autarca defende, no entanto, que quem devia pagar os prejuízos era a família do defunto e não a Junta.
João Barquinha nega que o problema esteja resolvido e diz que "com este tipo de pessoas os problemas só se resolvem por escrito, com acordos celebrados no notário".
