Desde a noite de domingo passado que, por cá, saídos das cavernas académicas onde só são interrompidos nas suas profundas cogitações pelos carteiros que lhes trazem as "últimas" editadas pela Amazon, os tudólogos das televisões e dos jornais abundam em "cenários" e "reflexões" por causa da Grécia. A coisa tem poucas variantes e, sobretudo, pouco realismo. As luminárias "pensam" mais em "cidades invisíveis" do que em Lisboa, Atenas ou qualquer outra capital europeia. São tremendistas. Insistem no termo "esquerda radical" - e "direita" igualmente "radical" aliada ao Syriza - para acantonar a expressão eleitoral de muito mais do que dois milhões de eleitores helénicos. Erram profundamente. Até à invenção dos patéticos Conselhos Europeus sempre mais "decisivos" do que os imediatamente antecedentes, e dos quais nunca resultaram quaisquer "decisões" a não ser pura intendência e mercearia, a Europa jogava-se na tensão democrática das respectivas soberanias nacionais. E jogava-se, sobretudo, pela política e não pelas "directivas" político-financeiras impostas unilateralmente pelos mais "fortes" no meio do mais acobardado silêncio. Foi assim que a Alemanha "tratou" da sua dívida e, no fundo, da sua vida - bem antes do austeritarismo evangélico que entretanto passou a pregar para terceiros - com a complacência geral dos "colegas". A Grécia emergente destas eleições, no lastro dos resultados globais das Europeias de 2014, obriga a recolocar a política no centro dos debates domésticos e europeus. Aquilo que por aqui chamam de "arco da governação" foi cortado às postas pelos votos gregos cuja classe média não perdoou as sucessivas humilhações e erros a que a eterna oligarquia "central" a sujeitou. Isto não é ser de "esquerda radical" ou, sequer, imoderado: é querer puxar tentativamente a vida das pessoas para cima. O dr. Passos, um moralista, não aprecia estas "leviandades" as quais toma por "contos de crianças". E o dr. Costa, uma incógnita, está por tudo e o seu contrário. Não aprendem.
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