
Estudo defende reforço dos estágios e revisão da orientação profissional
Foto: Pedro Granadeiro
Investigadores alertam para desfasamento entre área de formação e emprego. Proposto que empregadores contribuam para programas curriculares dos cursos
Os alunos que concluem uma formação profissional conseguem emprego mais depressa do que os que terminam um curso científico-humanístico. Investigadores da Nova SBE analisaram o impacto regional desta via e concluíram que três a cinco anos após a formação a criação de empresas cresce entre 20 a 30%.
O estudo “A expansão dos cursos profissionais em Portugal”, a divulgar hoje pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, alerta, contudo, que a maioria dos alunos acaba por trabalhar numa área diferente da formação.
O desfasamento deve ser corrigido, sublinham Pedro S. Martins, Luís Catela Nunes, Pedro Reis e Teresa Thomas. Por exemplo, permitindo às empresas pronunciar-se sobre os programas curriculares, o reforço dos estágios ou a revisão da orientação profissional.
“O impacto estimado no emprego na profissão correspondente, a nível regional, corresponde apenas a 10% ao fim de dois anos. Isto sugere que uma parte significativa dos alunos acaba por exercer funções fora da sua especialização”, explica Luís Catela Nunes. O investigador sublinha que a falta de informação pública sobre a empregabilidade de cada curso dificulta escolhas informadas e devia ser divulgada.
Balcões de apoio
É um dos maiores impactos: a criação de empresas, sobretudo sociedades, aumenta gradualmente na área de atividade económica da formação ao nível municipal, 19% após três anos e 30% passados cinco anos. Ao nível regional, o impacto oscila entre os 11% (após três anos) e os 39% (passados cinco anos). O estudo sublinha que é um acréscimo de 32% em relação à taxa média de criação de novas sociedade que é de 2,1 por ano, “o que constitui um efeito substancial”.
Na criação de empresas em nome individual (ENI), o impacto é bem mais moderado: entre 8 a 9%. Os investigadores concluem que os alunos beneficiam sobretudo as empresas que procuram quadros qualificados. E alertam que a criação de uma empresa exige competências de gestão que normalmente não são lecionadas nos cursos. Por isso, é recomendado a integração de módulos sobre desenvolvimento empresarial, inovação e criação do próprio emprego em todos os programas de Ensino e Formação Profissional (EFP).
Outras propostas são um sistema de mentorias e apoios à criação de novas empresas, tanto ao nível do financiamento como no acesso a incubadoras de forma a fomentar o surgimento de negócios alinhados com a formação. E a simplificação da burocracia, a criação de balcões de apoio para ajudar os recém formados no processo de registo de novas empresas e o acesso a regimes fiscais e de segurança social “adequados”.
O impacto ao nível do emprego “é positivo, mas modesto”, sobretudo ao nível concelhio onde o curso é feito. Ao nível regional, o efeito é superior, rondando os 20%, após três anos a conclusão da formação o que indicia que os alunos se deslocam para municípios vizinhos para procurarem emprego.
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40% de inscritos
No início do século, a percentagem de alunos em cursos profissionais, rondava os 28%, em 2022/2023 eram 40%. A média da UE é de 50%.
Meta de 55%
A meta é que até 2030 os inscritos na via profissional sejam 55% do total de alunos do Secundário. O programa do Governo promete a revisão da oferta e da rede de escolas.
Emprego
Estudo frisa que 72% dos alunos que concluem o ensino profissional conseguem emprego no prazo de um a dois anos. No ensino geral são 56%.
Menos chumbos
As taxas de abandono e de retenção no Secundário diminuíram de 39% em 2000 para menos de 10% em 2023.
Áreas e regiões
Informática (12% – 546 cursos), Hotelaria e Restauração (9% – 367 cursos), e Turismo e Lazer (7% – 315 cursos) são as áreas com mais cursos. Norte e Centro são as regiões com maior número de novos cursos: 1544 e 1480, respetivamente.

