
Presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira
Pedro Correia / Global Imagens
Perante a intervenção de Isabel Ponce de Leão, que criticou a petição que pedia a Rui Moreira a retirada da estátua de Camilo Castelo Branco do Largo Amor de Perdição, Rui Moreira sentiu-se ofendido e defendeu-se ao ler uma mensagem privada que a deputada lhe enviou na passada quinta-feira.
Mantém-se acesa a polémica em torno do pedido de retirada da estátua de Camilo do Largo Amor de Perdição, no Porto. Tendo ficado em silêncio durante mais de uma hora depois da intervenção da deputada Isabel Ponce de Leão, eleita pelo seu movimento, na sessão da Assembleia Municipal desta segunda-feira à noite (porque "são assim os termos da Assembleia Municipal"), o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, aproveitou um dos pontos da Ordem do Dia para se defender.
"Não posso, senhora deputada, responder ao tom pérfido, - não lhe conheço outro nome -, nem à calúnia de que acabei de ser vítima por parte da senhora deputada", começou por dizer Rui Moreira, pedindo esclarecimentos ao que Isabel Ponce de Leão considera como "interesses submarinos". A professora catedrática disse, durante a sua crítica no início da sessão desta segunda-feira: "É claro que não ponho de parte que haja interesses submarinos nestas coisas, mas isso não vem ao caso".
Para o autarca, Isabel Ponce de Leão, que fez parte, em 2012, do movimento para as comemorações dos 150 anos do "Amor de Perdição", de Camilo Castelo Branco, no Porto, protagonizou um momento de "apelo a uma mordaça e ao não debate". "E comigo estes assuntos devem ser debatidos sempre até à exaustão", alertou Moreira.
Recorde-se que o próprio presidente da Câmara do Porto admitiu concordar com a posição dos 37 signatários.
Moreira cita mensagem privada
"Não costumo relevar conversas por escrito que tenho com pessoas, mas neste caso sinto-me obrigado a fazê-lo. Porque a senhora deputada, na quinta-feira passada, às 11.24 horas da manhã, mandou-me uma mensagem e disse que queria falar comigo. E falamos. Mas houve uma coisa que a senhora deputada escreveu. Eu peço desculpa, mas vou ter de citar. Vou pedir-lhe desculpa. Diz assim: 'Não que goste dela, - estamos a falar da estátua -, mas passado 11 anos... Tudo isto é um ataque ao seu principal promotor e ao Dr. Rui Rio'. E depois diz assim: 'A ser retirada, terá que se pensar noutros mamarrachos que proliferam pelo Porto por uma questão de equidade' ", citou Rui Moreira.
Perante estas declarações, reveladas pelo autarca, Moreira diz que a intervenção de Isabel Ponce de Leão "é absolutamente desajustada".
E continuou: "Deixe-me dizer outra coisa: percebi que ficou incomodada por referir no meu despacho que estes cidadãos são cidadãos ilustres. Eu repito: estes cidadãos são, de facto, ilustres. Não tenho que dizer quem são, mas para quem não saiba estamos a falar, por exemplo, do Dr. Artur Santos Silva. Acho que é uma pessoa ilustre. O Prof. Dr. Bernardo Pinto de Almeida. Todos concordamos que é uma pessoa ilustre. O pintor Carlos Reis, ou Francisco Mangas, que por acaso é presidente da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto. O Dr. Henrique Manuel Pereira, doutorado em Literatura Portuguesa e Cultura Universal, o Jorge Sarabando, publicista, o Dr. Jorge Velhote, o Prof. Seabra Pereira, o pintor Mário Bismarck, catedrático da nossa Escola de Belas Artes, o Prof. Dr. Salvato Trigo, reitor, e o Sr. Professor Dr. Walter Osvaldo, também ele catedrático".
"Ataquei os moldes em que esta petição foi redigida", reitera deputada
Enumerada a lista de alguns dos 37 signatários que lhe pediram a remoção da estátua de Camilo, Rui Moreira notou ainda que a própria Isabel Ponce de Leão, ao contrário do que considerou na sua intervenção, "também é uma pessoa ilustre". Isto porque, clarificou, fez parte das pessoas que Rui Rio, enquanto presidente da Câmara, "consultou na altura".
"Como na altura, que eu saiba, a senhora deputada não era vereadora, só pode ter sido consultada por ser ilustre. Aliás, só foi proposta por mim para presidente da Comissão de Toponímia (...), foi exatamente por eu considerar que a senhora é uma pessoa ilustre. E foi por isso que foi eleita", considera o presidente da Câmara do Porto.
"Portanto, a senhora deputada é de facto uma pessoa ilustre, o que lhe dá uma maior responsabilidade para compreender que nestes debates, devemos tratar o assunto com a prudência necessária para não insultar parte a parte", concluiu.
A deputada respondeu: "Em nenhuma ocasião eu ataquei a instituição Câmara do Porto. Ataquei os moldes em que esta petição foi redigida. Que fique claro. Não retiro uma palavra".
