Encobrimento, substantivo masculino. Ato de encobrir. Ocultação. Recetação. Disfarce. Começa a fazer falta o dicionário para interpretar as reações ao interminável novelo em que se tornou o caso de Tancos. Ontem Marcelo Rebelo de Sousa fez questão de frisar significados e palavras. E, no limite, poderá ser nelas que se joga o intrincado problema político nascido do assalto.
Ninguém terá dúvidas de que houve muita gente a receber abundante informação. Vamos conhecendo conversas trianguladas entre chefias militares, ministro da Defesa e Casa Militar de Belém. Queixinhas da Polícia Judiciária Militar contra o Ministério Público, que por sua vez contestou a atuação daquela estrutura. Diferentes membros do Governo com tutela sobre atores que participaram na recuperação de material. Cada um a contar a sua própria versão dos factos.
Na sua defesa em praça pública, o ex-ministro Azeredo Lopes já alegou que soube da operação para recuperar as armas, mas não percebeu que houve encobrimento. É fácil de prever que veremos o argumento usado por mais pessoas. E haverá o risco de nunca percebermos quem soube exatamente o quê, porque é fácil manipular palavras e obrigá-las a dizer o que se quer.
Uma coisa é certa. Depois de tantos meses, de inesperadas reviravoltas, de acusações e pressões políticas, de demissões e divulgações parciais de interrogatórios, continua por concluir o essencial: a detenção dos responsáveis pelo assalto. Nisso Marcelo Rebelo de Sousa tem razão, a "nebulosa" em nada contribui para esclarecer factos.
O problema é que, quanto mais tempo passa, mais insustentável se torna a falta de apuramento de responsabilidades. De tranquilização dos portugueses e de normalização das instituições. E isso só pode ser uma séria questão política. Que começou na Defesa mas já contaminou São Bento e Belém. Resta saber o quanto.