Manuel Molinos

Os políticos que não se queixem

Há algo que os políticos portugueses ainda não perceberam ou não querem perceber. As lutas internas entre pessoas ou entre fações do mesmo partido, com as velhas armas do costume e com as estratégias de sempre, enfraquecem mais o sistema do que o enriquecem. E na maior parte das vezes, fazem-nos sentir vergonha alheia.

Ninguém olha para os índices de popularidade dos políticos? Ainda não perceberam como se criam Bolsonaros e Trumps? Pois bem, é mesmo assim. Não há melhor receita.

Esta combustão de profissionais da política, estes estereótipos repetidos em filmes, séries e novelas que se fixam nesta luta desregrada pelo poder, têm um preço. E há quem ande por aí à espreita. À espera de oportunidades para agarrar uma bandeira de mudança. Que preço iremos pagar por ela? O que indiciam já os recém-partidos criados à Direita? É que os cartazes do populismo já andam por aí, basta estar atento aos outdoors do ex-social-democrata que prefere "ser apelidado de racista do que um dia chorar vítimas em solo português".

É verdade que no seio de uma estrutura partidária é sempre mais complicado aceitar a diferença. Mas pôr em causa um líder só por não discordar de tudo o que o Governo faz, mesmo que seja bem feito, já não é entendível. No fundo, os partidos parecem precisar mais de conselhos de que os concretizar. Precisam de mais ideologia e menos individualismo.

Uma das frases mais certeiras de Rui Rio, durante a noite, foi mesmo a de que "o PSD está a dar aos portugueses um espetáculo pouco dignificante". Resta saber quantas temporadas terá. Em suma, o PSD que não se queixe do futuro. Um partido que não sabe proteger soldados e dá tiros na própria trincheira não é um partido que esteja em condições de gerir a vida de todos nós.

*Diretor-adjunto

Manuel Molinos