A imagem terrível de uma criança síria morta numa praia turca em 2015 - o mais trágico símbolo da crise de refugiados do Mediterrâneo - não mudou nada. Zero.
Passaram três anos desde que os corpos de Aylan Kurdi, de três anos, e do irmão Galip, de cinco, caíram na areia sem vida. Fugiam com a família de Kobane, cidade curdo-síria, na fronteira com a Turquia, e uma das mais castigadas pela guerra. O Mundo entrou em estado de choque e, tal como a autora da fotografia, ficámos petrificados. Mas nem com esta imagem a Europa mudou de atitude em relação aos refugiados. O que a fará mudar? Quantas vezes teremos de ver mais cadáveres de crianças na praia? Este fim de semana, 114 migrantes desapareceram a 50 milhas da costa da Líbia. Nos últimos dias, um outro naufrágio, no mar Alborán, causou a morte a 53 pessoas. Entre as vítimas, estavam mulheres, uma delas grávida, e crianças. Não há imagens como a de Aylan. Mas há as mesmas queixas de quem tenta remediar a desumanidade de tantos gabinetes que vestem de fato e gravata mas que decidem com uma pala nos olhos. Não há um programa europeu de resgate no Mediterrâneo e há barcos, que salvam estas vidas, sistematicamente bloqueados por autoridades europeias. Numa entrevista ao JN, a Nobel da Paz Nadia Murad desabafou, a propósito das atrocidades de que também foi vítima às mãos dos Estado Islâmico, que era difícil compreender como é que o Mundo assistiu a um genocídio sem fazer nada. E tem razão. O Mundo assiste a demasiadas tragédias e pouco mais faz de que expressar a sua indignação através do teclado. É preciso colocar a foto de Aylan à frente dos olhos daqueles que começam a escolher e a compor listas para as eleições europeias de maio. É preciso que a UE tenha coragem para sancionar os países europeus indiferentes às mortes que patrocinam. Quando em maio formos votar que homenageemos o menino Aylan Kurdi.
*Diretor-adjunto