Economia

Despedimentos coletivos triplicaram nas grandes empresas

Novo Banco admite tem intensificado despedimentos Alvaro Isidoro / Global Imagens

Processos aumentaram pela primeira vez desde 2012. Abrangem, em média, cada vez mais trabalhadores.

O número de trabalhadores que perderam o emprego no âmbito de processos de despedimento coletivo aumentou para 3601 no ano passado. É uma subida de 3,5%, algo que não acontecia desde 2012, ano de grave crise económica e financeira em Portugal, indicam dados do Ministério do Trabalho. As empresas de maior dimensão foram as grandes responsáveis por este agravamento, tendo triplicado o número de pessoas despedidas entre 2017 e 2018.

Por região

O aumento nos despedimentos aconteceu sobretudo em Lisboa e no Sul do país, mas no Norte e no Centro, embora o fenómeno tenha regredido, os efeitos dos despedimentos também se fizeram sentir (são cerca de 30% do total), indicam os mesmos dados.

A economia portuguesa tem vindo a dar cada vez mais sinais de abrandamento, sobretudo ao longo dos últimos meses, mas só isso não explica o aumento dos despedimentos coletivos.

Como relembrou António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal, na quinta-feira, na conferência do Fórum Capitalizar, até é fácil despedir em bloco em Portugal. Mais difícil é fazer despedimentos individuais. "Criou-se esse estigma de que em Portugal as leis laborais impedem o desenvolvimento. Isso aconteceu no passado remoto, a legislação atual não é limitativa", referiu. Nesse debate, Carlos Silva, secretário-geral da UGT, concordou que as leis do trabalho que vigoram em Portugal são "suficientemente flexíveis".

Como já noticiou o JN/Dinheiro Vivo, a maioria dos empresários inquiridos em 2018 pelo Instituto Nacional de Estatística, num estudo sobre os custos de contexto da economia portuguesa, considera que despedir trabalhadores continua a ser fácil.

Grandes empresas

Os dados do ministério de Vieira da Silva, de balanço de 2018, indicam que o número de trabalhadores despedidos subiu (3,5%) e isso não acontecia desde o tempo da troika e do ajustamento do Governo PSD/CDS.

É preciso recuar a 2012 para vermos uma subida neste tipo de despedimento (quase 61%). Desde essa altura que os despedimentos coletivos estavam a cair de forma consistente, ao ritmo de dois dígitos ao ano.

Os novos dados mostram também que foram as grandes empresas (com 250 ou mais empregos ou volume de negócios superior a 50 milhões de euros e ativo líquido superior a 43 milhões de euros) as responsáveis pela degradação destas estatísticas em 2018. Houve uma triplicação (aumento de 194%) do número de despedimentos concluídos com sucesso. Total: 1171 trabalhadores. Em 2017, tinham sido afetados 398.

Nas outras tipologias (micro, pequenas e médias empresas), o número de pessoas despedidas até recuou. Cerca de menos 13%, 19% e 26%, respetivamente.

Mais afetados

Os números oficiais confirmam ainda que as ações de despedimento coletivo feitas e concluídas em 2018 afetaram, em média, mais pessoas. Cada processo logrou despedir, em média, 11,3 trabalhadores.

É um valor ligeiramente superior à média registada em 2016 (11,2 pessoas despedidas por processo) e é o mais alto dos últimos 12 anos. É preciso retroceder a 2006, quando cada despedimento coletivo conseguiu afastar, em média, quase 15 pessoas.

Os despedimentos coletivos estão a subir, mas a economia como um todo ainda está a criar emprego e a taxa de desemprego baixou para valores à volta dos 6,6%.

No entanto, há sombras no horizonte motivadas sobretudo pelo efeito do Brexit e de um maior protecionismo comercial entre países, como EUA e China.

2018

Na lista da Eurofound, aparecem nomes como a Cofaco (redução de 167 postos de trabalho), os CTT (800 pessoas em três anos), a Gramax (tinha um plano para reduzir 150 trabalhadores, mas acabou por fechar e deixar quase 500 no desemprego) e a General Electric (menos 200). A Altice também anunciou uma possível redução de 268 pessoas e o Novo Banco 400.

2019

Já no início deste ano, o grupo de construção Elevo avançou com uma proposta de reduzir 400 pessoas. A fábrica de painéis solares de Moura também já anunciou que vai fechar, deixando 105 desempregados.

Luís Reis Ribeiro