Quando a ministra da Presidência e da Modernização Administrativa anuncia um dia de luto nacional pelas vítimas de violência doméstica e de violência contra as mulheres é quase como tentar tapar com cosméticos as cicatrizes que nunca desaparecem.
A intenção é boa. O princípio é bom, mas soa, mais uma vez, a campanha eleitoral. As vítimas reclamam por uma justiça eficaz. Precisam de quem as proteja e de quem as defenda e não de quem as use como mais um "je suis" em período pré-eleitoral. Não é um dia de luto que vai consciencializar um agressor nem decisões escandalosas de juízes, os mesmos que são representados por uma associação sindical que escolheu assinalar o Dia da Mulher com um anedótico workshop de maquilhagem.
Mariana Vieira da Silva diz que o combate à violência doméstica é uma tarefa de todos e de toda a sociedade, que passa pelo combate contra a banalização e a indiferença em relação ao fenómeno. E tem razão. Mas de um membro do Governo, de um membro que acabou de chegar ao Governo, espera-se mais do que palavras bonitas. A grande maioria dos portugueses não é agressora nem é violenta. Mas os que são têm de ser punidos e a confiança da sociedade portuguesa na capacidade de resposta do Estado, como deseja Mariana Vieira da Silva, não vai lá com pinturas ou dias de luto.
Estamos perante um bom plano de marketing pessoal da ministra ou diante de uma ação para consciencializar a sociedade portuguesa para este tema? A linha que separa é muito ténue.
As datas comemorativas criadas na tentativa de unir as pessoas a uma causa, resultado de iniciativas civis e petições dirigidas ao Parlamento, são aceitáveis e fazem sentido. Mas já há dias para tudo e a grande maioria é ignorada ou motivo de escárnio.
Não queremos que as vítimas de violência, mulheres e homens, tenham um dia de atenção. Queremos que tenham uma atenção contínua e que possam ser ouvidas, ajudadas, acompanhadas, antes que o luto se transforme em doença.
*Diretor-adjunto