O estado brasileiro do Rio de Janeiro registou 1546 mortes por agentes policiais entre janeiro e outubro deste ano, o maior número desde 1998, quando o Instituto de Segurança Pública (ISP) iniciou a sua série histórica.
O número de mortes nos primeiros 10 meses deste ano já é superior aos 1534 homicídios efetuados por agentes do Estado em todo o ano de 2018, que tinha sido, até então, o ano com mais mortes deste tipo registadas.
Os números são do ISP e não englobam os valores parciais do corrente mês.
Contudo, o ISP reforça que em outubro, as mortes por intervenção de agentes do Estado diminuíram 6% em relação a setembro e caíram pelo terceiro mês consecutivo: 194 casos em julho, 170 em agosto, 153 em setembro e 144 em outubro deste ano.
Na comparação com outubro do ano passado, ocorreu um aumento de 13% no números de mortes às mãos de agentes policiais.
Por outro lado, 21 polícias militares perderam a vida em serviço nos primeiros 10 meses do ano, três deles em outubro passado. De acordo com o instituto, nenhum polícia civil perdeu a vida este ano, no decorrer da sua atividade profissional.
O ISP revelou ainda que até outubro último, as polícias civil e militar apreenderam 7215 armas de fogo no Rio de Janeiro, o que significa que, em média, 24 armas foram retiradas das ruas por dia.
Desde que assumiu o cargo em janeiro, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, alinhado com a política de segurança do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, adotou uma forte retórica de combate ao crime, baseada no uso da violência, com o número de pessoas mortas pela polícia a aumentar significativamente em comparação com os anos anteriores.
Na semana passada, um agente da polícia militar foi acusado da morte de uma menina de 8 anos, durante uma operação policial numa favela do Rio de Janeiro, há dois meses.
A menina Ágatha Félix foi atingida, em 20 de setembro, com um tiro nas costas enquanto viajava numa carrinha, acompanhada pela mãe, no Complexo de Alemão, um conjunto de favelas na parte norte da capital fluminense.
Segundo a investigação, o polícia matou Ágatha por um "erro de execução", já que o agente tencionava alcançar dois indivíduos que circulavam de motociclo e não teriam respeitado um bloqueio policial.
Na ocasião da morte da criança, os agentes alegaram que foram atacados de várias direções e que estavam a reagir a tiros, sem admitirem que foi uma bala proveniente de uma das suas armas que atingiu a criança.
No entanto, as autoridades apuraram que, no momento do crime, não havia registo de pessoas armadas, além dos próprios polícias.
A morte da pequena Ágatha Félix comoveu o Brasil e desencadeou uma onda de protestos intensos contra a violência que se regista nas regiões periféricas do Rio de Janeiro, onde traficantes de droga, polícias e milícias travam uma guerra que se arrasta há décadas.
O caso também reavivou o debate sobre as políticas de "tolerância zero" em relação aos crimes nas favelas, defendidas pelo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e pelo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.