Um grupo de cidadãos entregou esta quinta-feira à Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) um pedido de classificação da antiga estação ferroviária da Boavista, no Porto, onde o El Corte Inglés tem intenção de construir.
No pedido, que já seguiu por email e carta, os cerca de 60 subscritores de uma carta aberta que alerta para a importância de preservação daquele património, pedem a sua classificação como Imóvel de Interesse Público (MIP), admitindo, contudo, outras classificações, desde que permitam a preservação daquele local.
"Esperamos que o pedido que entregamos seja aceite e que a estação seja classificada como património de interesse nacional. Seria melhor ser de interesse nacional, no entanto, se a DGPC não entender assim, e preferir que seja a câmara a tomar esse processo, também não recusamos essa possibilidade", afirmou, em declarações à Lusa, o primeiro subscritor.
Para Hugo Silveira Pereira, Investigador do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, estão reunidas todas as condições para que a antiga estação ferroviária da Boavista, local onde o El Corte Inglés tem intenção de construir, possa ser classificada, garantindo a preservação daquele património ferroviário.
De acordo com o investigador, do que é conhecimento público, através das imagens de satélite fornecidas pela aplicação Google Maps, a parte exterior da estação "parece estar bem conservada", podendo assim dar-lhe um novo uso.
Nos terrenos envolventes à estação, acrescentou, é ainda possível ver "que parece existir uma rotunda de Locomotivas - um instrumento que se usava para virar a locomotiva no sentido contrário", bem como, "resquícios das linhas" da gare de passageiros, explicou.
"Entendemos que é necessário manter viva a identidade ferroviária daquela zona. Foi uma estação que serviu o Porto durante mais de 100 anos, foi uma das primeiras a servir o Porto, ela foi inaugurada cinco meses depois de Campanhã e, portanto, é uma parte importantíssima não só da história ferroviária, mas também da história do Porto", sublinhou o investigador natural de Gaia.
Numa carta aberta, 62 personalidades ligadas à academia e ao património ferroviário alertam para a importância da preservação da antiga estação ferroviária da Boavista, em risco se o projeto do El Corte Inglés para aquele local avançar.
"O projeto imobiliário previsto para aqueles terrenos ameaça a preservação daquele elemento do património ferroviário nacional, que malgrado algumas iniciativas meritórias, tem sido, década após década, muito maltratado", lê-se na missiva.
Adicionalmente, defendem os signatários, "o projeto imobiliário em causa prevê a construção de infraestruturas desnecessárias para o contexto urbano local, designadamente um centro comercial e um hotel, quando, num raio de apenas um quilómetro desde a rotunda da Boavista, existem pelo menos cinco centros comerciais ativos e diversas unidades hoteleiras".
Nesse sentido, os subscritores apelam ao Ministério das Infraestruturas e Habitação, à Infraestruturas de Portugal (IP) e à Câmara do Porto que, em cooperação com a DGPC e a Metro do Porto, envidem todos os esforços para "impedir a concretização do projeto imobiliário do El Corte Inglés, fazendo reverter o domínio e usufruto dos terrenos para a esfera pública.
Na carta aberta, os signatários defendem também a implementação naquele local de "uma solução urbanística que inclua a preservação dos elementos ferroviários ali presentes, com entrada pela antiga estação da Boavista, que assim manteria a sua função original de acolhimento e ponto de passagem de cidadãos, outrora passageiros do caminho de ferro, presentemente usufrutuários de um espaço público".