Uma empresa espanhola foi contratada pela Força Aérea Portuguesa (FAP) para dar formação aos pilotos da Esquadra 552.
Em causa está um contrato de 860 mil euros com a World Aviation SL, que serviu para colmatar a incapacidade daquele ramo das Forças Armadas (FA) para fornecer formação aos seus militares aviadores, devido à chegada dos novos helicópteros Koala. A FAP justifica a decisão de recorrer a um privado com "uma dificuldade de formação momentânea".
A instrução está a ser dada a sete pilotos na Base Aérea N.º 11, em Beja, onde estão três dos cinco novos hélis ligeiros comprados aos italianos da Leonardo - os outros dois são esperados este ano.
Na origem do recurso a um privado estrangeiro por parte da FAP está a falta de horas de voo suficientes em hélis ligeiros dos militares que podem dar formação aos mais novos e desconhecimento técnico em relação às novas aeronaves. Tal deve-se ao hiato de tempo de inatividade entre a chegada dos Koala e o abate dos Alouette, da Guerra Colonial.
O JN apurou que há ainda questões financeiras. Apesar de o contrato do Estado com os fabricantes italianos dos novos hélis prever a formação de aviadores e mecânicos nos Estados Unidos, a FAP não terá tido capacidade financeira de assumir as deslocações e estadias de tal número de pessoas.
Ao JN, a FAP adiantou que "recorreu à World Aviation SL para ultrapassar uma dificuldade momentânea, consequência do "phase out" [saída gradual] do Alouette III e do "phase in" [introdução gradual] do AW119 MKII Koala". Ainda segundo o ramo de aviação das FA, a formação está a ser dada "sob supervisão de instrutores militares e nos moldes da formação militar".
Para a Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), "este caso tem de ser entendido à luz das alternativas que a FAP teria". "É admissível? É. É desejável? Não, de todo. Mas com o parco orçamento para pessoal e funcionamento, que obriga a "caçar com gato em vez de cão", a FAP conseguiu responder da melhor forma a uma necessidade", defendeu ao JN o tenente-coronel Costa Mota, líder da AOFA.
Já Lima Coelho, da Associação Nacional de Sargentos (ANS), admitiu "surpresa"com o caso. "Reflete as dificuldades nas Forças Armadas. Há anos que temos vindo a denunciar os efeitos graves que terão as saídas de militares e a falta de investimento", disse aquele sargento-mor da Força Aérea.
Helicópteros Koala poderão vir a dar ajuda a apagar incêndios
As novas cinco aeronaves compradas à Leonardo, por quase 21 milhões de euros, estão aptas a ser usadas no combate a incêndios, além de todas as outras funções para as quais foram adquiridas pela Força Aérea - entre a quais a de patrulhamento e buscas e salvamento. A chegada dos Koala começou em 2019, após a gestão - e futura operação - dos meios aéreos de combate aos fogos rurais ter passado da Proteção Civil para a Força Aérea. Desde os anos de 1990 que a substituição dos Alouette era equacionada. Mas só avançou em 2017, sendo entregue à mesma fabricante dos hélis EH-101.
Dois concorrentes para dar treino a pilotos
De acordo com a documentação que consta no portal da contração pública Base, além dos espanhóis da World Aviation SL, a portuguesa HeliBravo também entrou no concurso lançado pela Força Aérea.
860 mil euros sem desconto de privado
O concurso público, de 700 mil euros [860 mil com IVA], teve como critério de adjudicação o preço mais baixo. Mas a empresa espanhola vencedora ganhou sem dar qualquer desconto.