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Escândalo da Raríssimas deixa crianças do Norte sem tratamento

Leonardo Negrão/Global Imagens/Arquivo

As investigações ao alegado desvio de verbas da Raríssimas continuam, três anos depois de espoletadas, por concluir e sem ter dado origem a qualquer acusação do Ministério Público.

Mas o escândalo que rebentou no final de 2017, na associação dedicada ao tratamento de crianças e jovens com doenças raras, continua a afetar quem menos culpa tem no caso. Na Delegação Norte da instituição, sediada na Maia, uma quebra de 70% no número de mecenas obrigou a diminuir para cerca de metade os utentes em tratamento.

A falta de dinheiro para pagar terapeutas também provocou o crescimento do número de crianças doentes colocadas na lista de espera. São quase 20 os meninos e meninas sem acesso a cuidados médicos específicos para as suas patologias.

"São crianças que, sem o tratamento que disponibilizamos na instituição, têm uma qualidade de vida muito reduzida", assegura Nuno Branco.

Menos 70% dos mecenas

O responsável pela Delegação Norte da Raríssimas explica que a instituição tem sobrevivido à custa de donativos de empresas, eventos que promove e de angariação de donativos.

Iniciativas que, porém, sofreram um grande abalo com a revelação de que as principais dirigentes da instituição, a ex-presidente Paula Brito e Costa e a antiga vice-presidente e líder da estrutura criada na Maia Joaquina Teixeira, eram suspeitas de desviar fundos para o apoio aos doentes.

Só no que diz respeito aos peditórios, a receita angariada caiu dos habituais 80 mil euros anuais para os 10 mil euros registados no final ano passado. "Também perdemos 70% dos mecenas", reforça Nuno Branco.

Atualmente, a Delegação do Norte da Raríssimas acolhe entre 30 a 40 utentes, 20 dos quais têm o tratamento pago por uma das 12 empresas que apadrinham o projeto.

À procura de padrinhos

As despesas dos restantes utentes são suportadas pelas próprias famílias, mas há muitos outros sem condições financeiras para fazer o mesmo. "Esses utentes precisam de padrinhos, empresas que paguem os seus tratamentos, porque as famílias são carenciadas", justifica Nuno Branco.

"Convidamos a comunidade e os mecenas a conhecer a delegação do Norte, o trabalho aqui realizado e, no final, que nos ajudem a ajudar", pede.

Suspeitas de gestão danosa

Corria o ano de 2017, quando Paula Brito e Costa, então presidente da Raríssimas, foi indiciada pelos crimes de peculato, recebimento indevido de vantagens e falsificação de documentos no âmbito de um alegado esquema que permitiu o desvio de milhares de euros para gastos pessoais. O dinheiro que devia ser para o tratamento dos doentes terá sido usado por Paula Brito e Costa para pagar roupas de marca, despesas de supermercado e outros luxos. Na mesma ocasião, o Ministério Público abriu um inquérito à gestão da Delegação do Norte da mesma associação. Uma auditoria feita às contas terá apurado a existência de irregularidades e levado ao afastamento de Joaquina Teixeira.

Poucos terapeutas - O corpo técnico da Delegação Norte da Raríssimas é composto por dois fisioterapeutas, uma terapeuta da fala, uma terapeuta ocupacional, uma auxiliar, três técnicos de marketing e dois administrativos.

Criada há 18 anos - A Raríssimas foi criada em 2002, por um grupo de pais de crianças com doenças raras. Em 2013, foi inaugurada a Casa dos Marcos, na Moita, um centro de desenvolvimento e reabilitação.