O quarto dia do festival "Eu Fico em Casa" prossegue na sua missão de trazer música às casas dos portugueses num momento em que milhares se encontram em isolamento social.
Tendo já arrecadado milhares de espectadores ao longo dos últimos três dias, a iniciativa levada a cabo pela SONY, Warner Brothers e Universal tem como propósito manter a indústria cultural viva, ainda que através das redes sociais, e fazer um enorme apelo à população para se resguardar nas suas casas como medida de prevenção perante a Covid-19. No quarto dia, o cartaz conta com, entre outros artistas, Tomás Wallenstein, Frankie Chavez, Claudia Pascoal, Nelson Freitas, Agir, Pedro Abrunhosa e Capicua.
Tomás Wallenstein ao piano toca Chopin
Numa sala, que mais parece saída dum café, de fato branco e o charme caraterístico, o vocalista dos Capitão Fausto senta-se ao piano, devidamente iluminado com LEDs de variadas cores, e dá início ao quarto dia do festival.
"Responso para maridos transviados", original de B Fachada, abriu o recital, seguido de "Boa Memória", dos Capitão Fausto, enviando saudações aos seus colegas de banda, B Fachada e Luís Severo, cujo tema, "Amor e verdade", interpretou a seguir. De volta aos Capitão Fausto, ouviu-se "Amor, a nossa vida".
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Tomás Wallenstein aproveitou ainda para ler um curto texto da sua autoria sobre a crise que vivemos, homenageando os profissionais de saúde e deixando votos de coragem, tanto a estes como a quem a doença atingiu e aos seus familiares. "Quando tudo melhorar, porque tudo vai melhorar, aplicaremos o que aprendemos sobre a partilha com toda a gente", frisa o artista antes de prosseguir para "Amanha tou melhor" e um cover de "Melhor do que parece", dos brasileiros O Terno. Para despedir-se, Wallenstein interpretou ainda o "Nocturne n.20" de Chopin.
Frankie Chavez aposta nos lives
Sonoridades que nos fazem sentir num clube de blues algures no Mississípi. Assim nos recebe Frankie Chavez na sua casa, acompanhado de toda uma parafernália de guitarras.
Um bocadinho de "Dust my broom", clássico original de Robert Johnson datando de 1936, e "Psychotic lover", tema original de Frankie Chavez, iniciaram o concerto de Frankie Chavez que, ainda não sendo possível ver a audiência, quase que adivinhamos que pôs todos os espectadores a bater o pé ao ritmo da música. Seguiram-se "December 21st 2012" e "Guitarras", tema nascido do projeto Miramar, que junta Frankie Chavez e Peixe (Pedro Cardoso).
O concerto teve ainda direito a convidados especiais - os seus dois filhos, Joaquim e Francisco - para tocar "Mundo a mudar", interpretado pelos Madrepaz no Festival da Canção 2020.
De harmónica ao pescoço - sim, ao pescoço - Frankie Chavez homenageou Francisca Cortesão com o tema "Family". "Parece que agora vão ficar na moda", afirma o artista sobre este novo formato de concertos, despedindo-se ainda com "I don"t belong".
Cláudia Pascoal e o seu humor
Cláudia Pascoal apresenta-se na sua cadeira que balança, que eventualmente foi trocada, acompanhada por duas pessoas que servem de "público". A artista, que adiou o lançamento do seu novo álbum para dia 27, aproveita a desculpa para "ao menos fazer um concerto", já que também tinha um concerto marcado para hoje na Covilhã, que acabou por não acontecer.
Após uma breve introdução cómica, lutando com um alter ego numa outra transmissão fictícia, Cláudia Pascoal cantou "Ter e não ter" e "Viver", tema que foi interrompido por uma "chamada", aparentemente de Samuel Úria, que serviu como desculpa para introduzir o acompanhamento. O humor foi uma constante durante todo o concerto de Cláudia Pascoal, seguindo-se um tema original, dedicado a alguém que não foi nomeado, um tal de "otário".
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Largando o ukulele e pegando na sua guitarra, a gondomarense partiu para um cover de "Eu jogo ténis", de Miúda. No entanto, o momento alto do concerto chegou quando Cláudia Pascoal cantou, em formato karaoke, o seu single "Espalha Brasas". A seguir a um apelo para ficar em casa, e uma promessa de chegar um dia à presidência, Cláudia Pascoal "ligou a rádio" e despediu-se com "Tanto faz" e "Música de um acorde", mais dois temas do álbum a ser lançado no dia 27 de março.
Nelson Freitas, o artista poliglota
O cantante cabo-verdiano, misturando o inglês, o português e até crioulo, referiu-se ao seu público internacional e saltou diretamente ao assunto desde a sua casa, acompanhado pela sua família.
"Break of dawn" deu início ao concerto, seguido de "Um sta no caminho", "Rebound chick" e "Fazer amor ma bo", em que o artista anuncia que "se tiverem alguém convosco, agora é aquele momento de dançar". Após passar a barreira dos 10 mil espectadores, ouviu-se "Problema", do novo álbum Sempre Verão, e "Na bo mon". Após um agradecimento a quem continua a trabalhar nos serviços públicos no meio da crise do Covid-19, ouviu-se "Mariana", e, depois dum apelo para as pessoas não fazerem compras em excesso, despediu-se com "Bolo ku pudim".
Agir canta os seus hits
De guitarra na mão e a solo, Agir parte para a sua participação neste festival, deixando mensagens de conforto e apoio à sua audiência virtual.
O ambiente instalou-se imediatamente com "Até ao fim" e "Mountains", tema de Carolina Deslandes em que Agir participa. "Respirar", "Leva-me a sério", "Bola de cristal" e "Minha flor" seguiram, com breves interrupções para interagir com o público que se fazia sentir através do chat da transmissão em direto. "Como ela é bela" e "Tempo é dinheiro", dois dos seus maiores hits, serviram para concluir um concerto sóbrio, em que Agir gastou menos tempo a falar e mais tempo a cantar.
Pedro Abrunhosa e a força da arte
"Nós somos feitos para estar próximos, para abraçar", assim começou Pedro Abrunhosa o seu concerto, afirmando que "temos a força da nossa língua, que agora nos está a juntar". "A arte serve para nos levar a outro lugar", frisou Pedro Abrunhosa por entre reflexões sobre o momento que se vive e o papel da música e da arte nesta crise.
Após um discurso introdutório, sentado ao piano e com um deslumbrante fato brilhante, as suas mãos tocavam os primeiros acordes de "Para os braços da minha mãe". "Deixou de haver fronteiras, somos todos iguais", afirmou Pedro Abrunhosa, deixando a promessa de que, quando tudo acabar, "vamos todos celebrar", seguindo para "Vem ter comigo aos Aliados". Após uma prece ao Serviço Nacional de Saúde e aos seus elementos, ouvimos "Eu não sei quem te perdeu" e "É preciso ter calma". "A.M.O.R." foi a canção escolhida para a despedida de Pedro Abrunhosa.
Capicua e as suas medusas
A rapper de intervenção começou o seu concerto a ler um excerto dum conto, com medusas como pano de fundo, não só da imagem com que se apresentou, mas do concerto inteiro.
"Passiflora", um estilo de híbrido entre fado e Hip Hop, com beat de Stereossauro, que viria a fechar este quarto dia do festival, abriu o concerto de Capicua, seguindo-se "Circunvalação", um tema dedicado ao público portuense que "percebe melhor as private jokes e as referências", não fosse este tema inspirado na famosa estrada que cruza a cidade de Gondomar a Matosinhos. "Gaudí", uma música "para sorrir num dia difícil", seguiu-se, junto com "Parto sem dor".
Capicua informou que os seus concertos para esta altura foram adiados, mas não cancelados. De seguida, partiu para "Madrepérola", dedicada a todas as mulheres na audiência. Após uma mensagem de apoio a todos os afetados por esta crise, e para despedir-se, Capicua cantou a cappella o tema "Mátria".
A noite seguiu com Pedro Mafama e Stereossauro, DJ campeão do mundo, que animaram o fim deste quarto dia de festival "Eu Fico em Casa".