É atualmente o grande mistério europeu: com os casos confirmados de Covid-19 a subir como no resto do Mundo, a Alemanha apresenta a mais baixa taxa de letalidade, 0,38%.
Haverá uma de várias razões ou a conjugação delas. O tempo haverá de responder, mas uma coisa é certa, os alemães tomam decisões antes da hecatombe. Ontem, foram proibidos os ajuntamentos de mais de duas pessoas. E a chanceler, Angela Merkel, 65 anos, colocou-se em quarentena depois de saber que um médico que lhe deu uma vacina contra a pneumonia na sexta-feira passada testou positivo para o novo coronavírus.
A baixa mortalidade dos infetados alemães - comparada com a francesa (4,2%), a britânica (4,6%), a espanhola (6,1%) e, sobretudo, a italiana (9,7%) - começa por ser explicada pela massificação de testes, estimada em quatro mil por cada milhão de pessoas. Aí a explicação coincide com a que é dada para a Coreia do Sul, que realizou cerca de cinco mil testes por milhão de habitantes. Quanto mais casos diagnosticados, menor o peso das mortes no bolo total. O facto de aquele país asiático ter uma mortalidade superior - 1,1% dos infetados - prende-se com o desvio temporal das mortes em relação às confirmações (começou por uma letalidade de 0,5% para subir para a atual em três semanas). Isso significa que a taxa alemã deverá subir.
Isso remete para outra explicação: a epidemia está num estádio mais inicial na Alemanha e Berlim está a aproveitar o tempo e a aprendizagem com os outros para antecipar medidas de contenção. Além disso, a massificação de testes abarca muitos jovens, que são os vetores da doença por viajarem mais e são, também, os que melhor resistem à infeção. Ora, a idade média dos casos alemães está, segundo o Instituto Robert Koch (DGS local), nos 47 anos. A contaminação de pessoas de idade não está, portanto, posta de parte e poderá revelar-se a prazo.
O que nos atira para a terceira hipótese: Itália tem 26% de habitantes acima dos 65 anos, a população mais envelhecida da Europa e a segunda do mundo, atrás do Japão, o que fará a diferença. Só que não, porque a Alemanha é o país que se segue nessa lista, com 25% da população com mais de 65 anos. Mas a média de idades dos infetados em Itália é de 66 anos, o que remete para a questão dos testes em massa, o que não se verifica no país transalpino, onde, além de tudo isso, a epidemia foi detetada muito tarde. Os anúncios dos primeiros casos e das primeiras mortes quase coincidiram.
Resta pôr em cima da mesa o facto de os jovens alemães viverem distanciados dos mais velhos, aos contrário dos italianos...
Terceiro país com mais camas de "intensivos"
Uma das grandes vantagens alemãs está nos cuidados intensivos: são os terceiros mais bem apetrechados do Mundo, com 28 mil camas - seis por cada mil habitantes -, atrás dos japoneses e dos sul-coreanos. Em Itália, são 2,6 camas destas por mil cidadãos.