Justiça

Atacou mulher duas vezes enquanto esperava por pulseira eletrónica

Esperou 21 dias pela medida de coação de pulseira eletrónica, agora ficou em prisão preventiva Arquivo JN

Condenado por violência doméstica esteve 21 dias à espera que medida de coação fosse aplicada. Agressor foi detido em ambas as ocasiões.

Um homem, de 49 anos e já condenado por violência doméstica, esteve 21 dias à espera que lhe fosse colocada uma pulseira eletrónica que o impedisse de se aproximar da sua ex-mulher e filha. Durante esse período foi detido duas vezes. A primeira depois de ameaçar de morte a antiga companheira e agredido a filha de 10 anos. A segunda a tentar invadir a casa destas.

Ao JN, a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) garante que todas as notificações judiciais relacionadas com a vigilância eletrónica "são cumpridas nos devidos tempos legais" e que, desde o início de março até à semana passada, "foram iniciadas 86 decisões de fiscalização eletrónica em contexto de violência doméstica: 54 em medida de coação; 25 em pena acessória e 7 no âmbito de obrigação fixada na pena de prisão suspensa na sua execução".

Cortou cabelo à mulher com faca

O caso ocorreu em Fânzeres, Gondomar, quando um indivíduo, na sequência de outros episódios violentos, cortou o cabelo à ex-mulher com uma faca e garantiu que havia de a matar. Após queixa da vítima, foi detido, pelo Núcleo de Investigação e Apoio a Vítimas Específicas do Porto da GNR, no dia 26 de março, mas seria libertado no dia seguinte com a obrigação de usar uma pulseira eletrónica para não repetir o ataque a família.

Porém, ao longo de 21 dias, nada foi feito, o que permitiu que o agressor voltasse, na última sexta-feira, a casa das vítimas, partisse o vidro da janela e tentasse invadir a habitação. Só não o fez, porque a GNR de Fânzeres foi rápida a responder ao pedido de socorro e apanhou-o antes de atacar a ex-mulher. Ao segundo interrogatório judicial, o homem já não foi colocado em liberdade, uma vez que o juiz decidiu enviá-lo para prisão preventiva.

Ao JN, a DGRSP assegura, apesar destes 21 dias de espera, que "todas as notificações judiciais aos serviços de vigilância eletrónica para execução são cumpridas nos devidos tempos legais". E acrescenta que há situações em que "a aplicação da fiscalização eletrónica para controlo da não aproximação do agressor à vítima do crime de violência doméstica pode não ser possível, a título de exemplo, por ausência de consentimento da vítima ou por ambas as partes residirem no mesmo local". Diz ainda que a colocação de uma pulseira eletrónica num agressor pode ter de ser adiada "por dificuldade em localizar as partes". Porém, "a inexequibilidade da fiscalização eletrónica ou a necessidade de adiamento do cumprimento da decisão judicial é desde logo comunicado ao tribunal, para, caso se justifique, ser equacionada outra solução legal que acautele a proteção à vítima", explica a entidade responsável pela gestão e monitorização das pulseiras eletrónicas.

Três mil pessoas controladas

Segundo a DGRS, entre 1 de março e 17 de abril, "foram aplicadas 89 medidas de coação de obrigação de permanência na habitação com vigilância eletrónica" para além das "54 medidas de coação de proibição de contactos entre arguido e vítima do crime de violência doméstica" já mencionadas. Todas estas medidas de coação, que implicam a colocação de uma pulseira ao agressor e a entrega de um equipamento de localização à vítima, são controladas pelo Sistema Nacional de Vigilância Eletrónica, que tem, atualmente, dez equipas (oito no território continental e duas nas ilhas). "Está previsto, nos próximos dois meses, a criação de mais duas", revela a DGRSP que avança, por fim, que "as equipas de vigilância eletrónica executaram, até agora, 2.091 decisões judiciais e monitorizaram mais de 3.000 pessoas entre arguidos, condenados e vítimas".

Roberto Bessa Moreira