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Parlamento repudia cartaz anti-polícia durante protesto contra o racismo

O tema das manifestação de sábado foi levado a Parlamento Leonardo Negrão/Global Imagens

Os deputados uniram-se, esta segunda-feira, na condenação do racismo - André Ventura foi a exceção. No entanto, a Direita e o PCP repudiaram dois cartazes, exibidos nas manifestações de sábado, que normalizavam a violência contra a polícia, arrastando PS e BE. Houve ainda lugar a críticas ao incumprimento das normas sanitárias nos referidos protestos.

O tema das manifestações foi levado a discussão no Parlamento por Beatriz Gomes Dias, do BE. A deputada disse que os protestos, convocados no seguimento da morte de um afrodescendente norte-americano às mãos da polícia, demonstraram que o anti-racismo conquistou o "espaço que lhe é devido", congratulando-se por as minorias étnicas terem assumido "o papel de sujeito político".

Interpelada por PSD, CDS e Chega, a bloquista acrescentou, após a sua declaração política, que "é evidente" que o BE condena os cartazes onde se lia "Polícia bom é polícia morto" e "O diabo veste farda". No entanto, esclareceu que eles não traduzem "o espírito" da manifestação.

Beatriz Dias acusou depois os referidos partidos de quererem "retirar toda a legitimidade" às manifestações, uma vez que houve "milhares" de outros cartazes nas ruas. A deputada também negou que o BE tenha tido responsabilidades na organização das manifestações.

Argumentando que o racismo "dificulta ou impede" o acesso das minorias a "direitos fundamentais" como a educação, a saúde, a habitação ou o emprego, Beatriz Dias pediu ainda políticas públicas que "reconheçam e removam os obstáculos colocados pelo racismo institucional".

Normas sanitárias também na mira

À Direita, Catarina Rocha Ferreira, do PSD, disse que o seu partido tanto critica o racismo como "a postura de alguns participantes" que mostraram "mensagens que incitam ao ódio" e, dessa forma, contribuíram "para o agravamento do problema".

A deputada acrescentou que o desrespeito pelas normas sanitárias provocou um "desvio" no impacto das manifestações. Horas antes, o líder do partido, Rui Rio, também tinha criticado, no Twitter, o "critério" do Governo para permitir ajuntamentos.

Telmo Correia, do CDS, afirmou que o racismo lhe causa "repugnância", mas censurou o "a instigação de ódio" que, em seu entender, marcou as manifestações

André Ventura, do Chega, foi o único a não condenar o racismo, preferindo dizer que "é pena" a atitude do BE não ser a mesma para com os negros que morrem às mãos de pessoas de etnia cigana.

João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, destacou a "incoerência" bloquista, partido que acusou de também discriminar quando o assunto deixa de ser as minorias étnicas e passam a ser os investidores privados.

PCP desconfia do protesto

À Esquerda, o PCP disse ser contra o racismo "sem mas nem meio mas'", embora tenha apresentado "a mais inequívoca condenação" face aos cartazes anti-polícia.

O comunista António Filipe disse contar com as forças de segurança na luta contra o racismo, mostrando ainda reservas quanto à "mera globalização de palavras de ordem".

O PS, pela voz de Isabel Moreira, saudou o "peso simbólico" de ter sido Beatriz Dias, uma deputada negra, a levar o tema ao Parlamento. A parlamentar socialista criticou os "cartazes condenáveis", mas considerou que a Direita está a promover um "spin" [insistência num assunto] com o objetivo de "ignorar" a luta racista.

Bebiana Cunha, do PAN, disse que as agressões e os discursos de ódio "não podem ser aceitáveis", acrescentando que se deve ser "intolerante com quem é intolerante".

Já Mariana Silva, do PEV, reconheceu que as manifestações "comportaram riscos" para a saúde pública. No entanto, referiu que "há causas que justificam" e que "o direito de cada um a respirar" é uma delas.

João Vasconcelos e Sousa