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Produtores querem foguete que evita granizo no Douro

Na última década, há registo de vários episódios de granizo na primavera que têm devastado vinhas do Douro Rui Manuel Ferreira / Global Imagens

O granizo é um dos piores pesadelos dos agricultores. Apesar de previsível, nunca se sabe ao certo onde vai incidir, durante quanto tempo e quão destrutivo poderá ser. É deixar cair e depois fazer as contas ao prejuízo.

Mas isto pode ter os dias contados. O Comité do Combate ao Granizo tem em curso um projeto-piloto para o Douro vinhateiro que visa pulverizar as pedras de gelo antes de chegarem ao solo, transformando-as em chuva. Só falta assegurar o financiamento.

O comité é formado pela ProDouro - Associação de Viticultores Profissionais do Douro que representa mais de 1100 produtores com 5000 hectares de vinha, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, a Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense e as adegas cooperativas de Favaios e Sabrosa.

Confrontado com sucessivos episódios de granizo todos os anos, com particular incidência nos concelhos de Alijó e Sabrosa, o comité foi à procura de uma solução fundamentada em conhecimento técnico. "Encontrámos duas hipóteses: redes antigranizo, viáveis mas com um custo muito elevado, e a luta preventiva através de perturbação artificial das nuvens de granizo", refere, ao JN, Rui Soares, presidente da ProDouro. A opção recaiu na "operação de modificação do tempo" por ser "muito mais barata e muito mais fácil de implementar".

Método usado em França

Para perceber como funciona, alguns elementos foram várias vezes a França, onde este método já foi implementado. Depois reuniram parceiros para entrar no projeto. É que "o granizo não afeta o agricultor A, B ou C, afeta toda a região". A estratégia de modificação do tempo será "sempre coletiva", ao contrário do uso de redes que é "sempre individual".

A seguir foi feito um projeto-piloto para três anos. "Como a região é enorme, o custo não é meigo". E é aqui que está o principal obstáculo: arranjar dinheiro para pôr o projeto a andar. Quatro empresas associadas da ProDouro criaram um fundo para suportar o investimento, mas "ainda não é suficiente". As câmaras de Alijó e Sabrosa chegaram-se à frente e "já se disponibilizaram para apoiar financeiramente". Mesmo assim, ainda se espera pela aprovação de uma candidatura submetida ao Fundo Ambiental. "Temos esperança que até ao verão possa ser aprovada", nota Rui Soares.

O projeto-piloto do Comité de Combate ao Granizo é para desenvolver durante três anos e tem um orçamento de 600 mil euros. O presidente da ProDouro estima que se este custo for dividido pelos hectares de vinha que podem ficar cobertos, dá "um custo semelhante a um tratamento contra o míldio ou o oídio". Se correr bem, no futuro poderá ser alargado a toda a região demarcada e a outras culturas.

Destaque destaque Como funciona centro

Radar meteorológico

O projeto de perturbação artificial das nuvens de granizo tem epicentro num radar meteorológico dedicado exclusivamente a esta função, cuja localização ideal é o planalto de Favaios (Alijó).

Raio de ação

O radar terá um raio de cobertura de 60 quilómetros e todas as nuvens de granizo que entrem na área são monitorizadas por ele. Se houver risco emite alertas para uma aplicação de telemóvel.

Foguete destrói granizo

A partir de um equipamento portátil são disparados para o ar cartuchos contendo sais de cálcio que rebentam a 600 metros de altura. Os sais vão fracionar as pedras de granizo, transformando-as em chuva.