O vinho tinto e o de missa hão de chegar também, mas, para já, a diocese de Viseu mandou engarrafar e já apresentou os primeiros dois brancos, ambos reserva, com o rótulo da Quinta de Carvalhiços, situada em S. Miguel de Outeiro, em Tondela, na Região Demarcada do Dão.
"São 12 mil garrafas, seis mil de cada vinho", adiantou, ao JN, Paulo Machado, diretor da Fundação de S. José (antiga Fundação José da Cruz Moreira Pinto) da diocese, dona da quinta com 70 hectares.
Há 47 anos, a fundação recebeu a propriedade (ver texto à esquerda) mas só em 2015 surgiu a ideia de ali desenvolver atividade agrícola. O falecido D. Ilídio Leandro, antigo bispo de Viseu, foi o grande entusiasta da ideia, que acabaria por ganhar projeto. "Nasceu com o objetivo das vinhas serem uma mais-valia para a localidade e também para a diocese de Viseu", adiantou.
A vinha antiga foi arrancada em 2016 e, no ano seguinte, foram plantadas novas videiras ao longo de 14,5 hectares onde, no ano passado, foi feita a primeira vindima. A colheita deu 80 toneladas de uva. "Vendemos 50 toneladas e vinificámos entre 20 a 30 toneladas", conta Paulo Machado.
enólogo Hugo chaves
A nova marca do vinho do Dão, que tem por detrás o enólogo Hugo Chaves, prometida para este ano, foi apresentada anteontem. O preço ainda está a ser estudado, assim como os locais onde o vinho vai ser comercializado.
Paulo Machado tem planos para que a quinta ganhe estrutura, crie postos de trabalho e o "Quinta de Carvalhiços" siga as pegadas do restante vinho do Dão, ou seja, a exportação. "Se queremos crescer não podemos ficar apenas pelo mercado nacional", sublinha Paulo Machado. "Este ano esperamos apenas conseguir começar a pagar algumas despesas", explica o dirigente, referindo-se a mais de um milhão de euros investidos na quinta.
Parte das uvas que forem apanhadas este ano deverão voltar a ser vendidas, até porque a Fundação S. José não quer dar um passo maior do que a perna, que é como quem diz, quer crescer de forma sustentada. O prometido vinho de missa deverá ser lançado ainda este ano. "O projeto está em curso, mas ainda estamos em experiências ", assegura o diretor da fundação.
Segundo o dirigente, o vinho tinto da marca deverá ser lançado em março do próximo ano. Paulo Machado revela que também tem planos para a casa da propriedade, em avançado estado de degradação. "Pretendemos reconstruí-la e criar uma obra social , um lar de idosos", adianta o dirigente, indo ao encontro do que Georgina Loureiro deixou em testamento.
"Sé de Braga" foi nome de vinho de missa
O Cabido da Sé de Braga, em parceria com as Caves Primavera S.A. lançou em 2013 um vinho com fins litúrgicos e foi batizado de "Sé de Braga". Mas já não existe. O néctar foi aprovado por D. Jorge Ortiga para fazer "face às crescentes dificuldades económicas", das paróquias. Por ser usado nas missas, o vinho tinha que respeitar algumas características como, ser proveniente da videira e não da manipulação ou junção de outros frutos, não podendo ser quimicamente produzido e com o teor de álcool inferior ou igual aos 18%. As paróquias tinham de disponibilizar parte do seu orçamento para adquirir o vinho de missa.
Doação - A propriedade foi deixada à diocese em 1973 por Georgina Conceição Costa Loureiro (morgada de Carvalhiços), que não casou nem teve filhos. Além da vinha, a quinta tem uma casa do século XVIII e capela.
Útil e agradável - O diretor da Fundação S. José, Paulo Machado, também diretor do Colégio Via-Sacra de Viseu, aproveitou para levar os alunos à quinta, durante a vindima do ano passado, e ajudaram a apanhar as uvas.