Cristina Azevedo

E se Marcelo não se candidatasse?

Estranha pergunta a que me assaltou no meio do espetáculo em que se tornou a infeção de Donald Trump por covid-19.

De repente, todo o processo eleitoral americano ficou ameaçado multiplicando-se as hipóteses sobre o que fazer se um dos protagonistas ficasse incapacitado.

Em caso de covid (Deus o guarde!) ou simplesmente porque não se encontram reunidas as condições para a vitória esmagadora que alegadamente ambiciona, a exclusão de Marcelo Rebelo de Sousa deixaria o exercício eleitoral em estado de transe.

O PCP e o BE cumprem o calendário político como é costume. O resto, pelo que percebemos, tende a apoiar o presidente em funções mesmo antes de este se apresentar formalmente.

Só Ana Gomes desafia este statu quo antecipado. Sem Marcelo, o que agora parece ser um exercício de aquecimento, virado para as franjas deste centrão esmagador, poderia bem passar a ser a única alternativa focada e credível para este amplo arco do espectro político nacional.

O que, convenhamos, seria para lá de exótico.

O que faria o PS? Adotaria Ana Gomes? Corria a encontrar uma alternativa? Quem? Só António Costa, ele próprio, federaria a Esquerda. Mas estaria Costa disponível para deixar o caminho aberto a Pedro Nuno Santos?

E o PSD? Sem condições para tornar qualquer dos candidatos restantes num filho adotivo de recurso, o partido teria de reagir com rapidez e acerto para poder ir a jogo.

Qual dos sapos seria mais difícil de engolir: Marques Mendes ou Pedro Passos Coelho? Sem contar que poderia o partido ficar a engolir em seco por falta de candidatos a isco de última hora.

Parece uma brincadeira, certo?

E, no entanto, este ano de 2020 tem mostrado à saciedade que os piores cenários se podem abater sobre todos nós com estrondo e sem pré-aviso.

Talvez fosse de encarar a escolha que se avizinha com a seriedade e a integridade política e intelectual que se impõe.

Afinal, em terras do Tio Sam ou noutra paragem qualquer, o vírus não se impressiona muito com o poder de homens providenciais.

*Analista financeira

Cristina Azevedo