Surgiu como uma lufada de ar fresco num país cinzento. O seu humor inteligente cativou os humoristas da geração de Nuno Artur Silva. Os mais novos também destacam a sua importância, mesmo sem terem presenciado o apogeu de Solnado.
"A actualidade das suas rábulas no 'Zip Zip' mantém-se intocada. Mas o que mais impressiona é a modernidade da sua linguagem. É como se entre o seu trabalho e o dos Gato [Fedorento] tivesse passado três meses em vez de 40 anos". As palavras de Herman José ilustram bem a opinião que autores e humoristas têm do trabalho de Raul Solnado.
Um humor que não perde a graça mesmo tendo sido feito há quatro décadas. Por ser inteligente, estar bem concebido e também porque com ele "acaba uma época em que humor era sinónimo de chalaça acéfala e anedota pseudopicante que não beliscasse a censura salazarista", prosseguiu.
"Todos nós fomos buscar qualquer coisa ao Raul independentemente das influências estrangeiras", explica, por seu lado, Nuno Artur Silva, autor e director das Produções Fictícias (PF), produtora que assina projectos como "Gato Fedorento" e "Os Contemporâneos".
"Foi a primeira pessoa com quem me ri na televisão portuguesa, mesmo no meio daquele país cinzento em que vivíamos", prosseguiu. Nos últimos meses, Nuno Artur Silva contactou de perto com Solnado, pois as PF assinam o documentário "As Divinas Comédias". "Tinha um lado extraordinariamente positivo de ver a vida sem perder a lucidez. Não era complacente com o que o rodeava", contou.
Eduardo Madeira, actor e autor de "Os Contemporâneos" sublinha que Raul "jogava muito bem com o ritmo das piadas", considerando-o "percursor da 'stand up comedy'". "Muitas das gerações mais recentes do humor não se apercebem da sua importância, porque não apanharam o Raul no máximo da sua carreira. Mas há quem procure rever o seu trabalho", explica.