Pico da 3.ª vaga já passou e fator R está abaixo de 1. Em janeiro, covid matou tanto como em nove meses.
O impacto das medidas de confinamento mede-se em números. A saber. O pico desta gigantesca 3.ª vaga já passou. Estamos a começar a achatar a curva, com a desaceleração maior a registar-se nas crianças. E o fator R, que mede o grau de transmissão do vírus, está abaixo de 1. "São boas notícias, mas não podemos baixar a guarda", avisa Carlos Antunes, o autor dos cálculos. Para trás, um pesadelo chamado janeiro. Mês em que se morreu tanto por covid como em nove meses. Mês com 6593 óbitos em excesso, quase metade do total do ano passado.
Por partes, e sublinhando que os cálculos são de ontem, tendo por base dados que estão sempre a ser corrigidos. Entre 22 a 25 de janeiro, explica ao JN aquele professor da Faculdade de Ciências de Lisboa, atingiu-se o pico a nível nacional. Com diferenças regionais, estando Lisboa agora "a chegar ao pico". Apesar de ser a região "com maior redução na mobilidade", o peso de "65% da variante inglesa" sobre os infetados traz dificuldades acrescidas.
"As medidas estão a resultar, não podemos aliviar minimamente, quanto mais rígidos e eficazes mais rapidamente vamos controlar, não podemos cometer os erros do passado". Carlos Antunes estima que possamos chegar "ao final de fevereiro aos níveis pré-Natal", isto é, com 3500 novos casos diários. E se continuarmos "implacáveis, no início de março podemos estar nos dois mil".
Neste momento, estamos com "uma desaceleração idêntica à de março, temos que acelerar mais a descida [o ponto de partida da 3.ª vaga não tem comparação com o da 1.ª]". Sendo que, revela, o fator R, que nos diz quantas pessoas um positivo pode infetar, baixou o 1, estando nos 0,99. "O ideal era estar nos 0,8, entre 15 dias a um mês", frisa o matemático.
Fecho de escolas impacta
E o encerramento das escolas está já a impactar positivamente nesta inversão? "É inequívoco", responde. Para voltarmos aos números. "A desaceleração nas faixas escolares é maior do que nos outros grupos, sobretudo a partir do fecho das escolas. Estão a desacelerar drasticamente, muito mais do que a população ativa", diz Carlos Antunes.
Se a 20 de janeiro a faixa escolar 6-12 e 13-17 anos registava um crescimento diário (a 14 dias por 100 mil habitantes) de 6,2% e 5,3%, passados dez dias, com as escolas já fechadas, essa variação caiu para +2,2% e +1,7%, respetivamente. Ou seja, o número de novas infeções naquelas idades cresce agora a um ritmo três vezes inferior. Quanto aos menores de cinco anos (creches e pré-escolar), mantêm-se com a mais baixa incidência.
Fica o foco sobre a população ativa, defendendo aquele professor uma "maior fiscalização" e cumprimento do teletrabalho, que "não está a ser feito como em março". Imaginando um incêndio, "quando o vento dá tréguas é quando se ataca com mais força". É aí que estamos: "Temos que cumprir, levar mais à risca as medidas porque estão a resultar", avisa Carlos Antunes.
Janeiro horribilis
Incêndio esse que fecha com um janeiro nunca antes visto. Em apenas 31 dias a covid matou tanto como em nove meses. Foram 5785 óbitos, 45% do total. Feitas as contas a toda a mortalidade, janeiro fecha com 6593 óbitos em excesso, 88% dos quais por SARS-CoV-2. Ou seja, expurgada a covid, em janeiro, todos os dias, em média, registaram-se 25 óbitos em excesso. A sobremortalidade neste mês corresponde a quase metade de todo o excesso registado ano passado.
Números nunca vistos, com nove dias com mais de 700 mortes diárias, com pico a 20 de janeiro: 746, quase o dobro da média. Impactando mais em Lisboa, com 7345 óbitos por todas as causas. Já a mortalidade prematura (abaixo dos 70 anos), disparou 39%.