Economia

Empresas exportadoras do Norte reagem melhor à crise

Empresa de Coimbra viu as vendas crescer em 11% em ano de pandemia Fernando Fontes / Global Imagens

As empresas exportadoras do Norte conseguiram reagir melhor aos constrangimentos criados pela covid-19 e continuaram a vender, em 2020, com quebras abaixo da média nacional ou, em alguns casos, surpreendentes crescimentos. E há boas notícias para este ano, a nível de resiliência e risco de fracasso.

Só no Norte, mais de 16 mil empresas exportadoras estiveram expostas aos impactos do combate à covid-19 no ano passado. A maioria conseguiu reagir, reinventar-se, em alguns casos, e procurar novas rotas, noutros. Setores tradicionais, como o têxtil, deram a volta à quebra nas encomendas de moda e dedicaram-se às máscaras certificadas, aumentando o peso nas vendas para 18%. As tecnológicas deram resposta às necessidades de investimento no digital em todo o Mundo e ampliaram negócios com o estrangeiro (ler caixa).

"O Norte manteve um excedente comercial, que ascendeu a 4,5 mil milhões de euros em 2020, com uma taxa de cobertura de 128%, quando a média nacional é de 79,3%. Isto mostra onde se produz valor acrescentado e onde está a indústria", comentou Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal (ler mais ao lado).

Família e resiliência

Só em 2009 houve registo de uma quebra tão grande nas exportações portuguesas como em 2020. Mas as perspetivas são de rápida recuperação. A maioria das exportadoras do Norte tem um risco mínimo ou reduzido de cessar atividade nos próximos 12 meses sem pagar as suas dívidas (77%) e uma resiliência elevada a média (83%), segundo análise da consultora Informa D&B.

O Norte é importante para as exportações, mas "não é um ratinho que puxa a carroça", apontou o economista Miguel Coelho. As empresas familiares que funcionam como motor da resiliência do Norte, mais dispostas a sacrifício pessoal para manter os negócios, podem ser "uma desvantagem, quando a gestão não é profissional", apontou. Além disso, "são mais avessas ao risco e à entrada de capitais externos e isso é algo que falta às nossas empresas para financiar a inovação e desenvolvimento".

O presidente da AEP coloca "as pessoas do Norte" entre os principais fatores de competitividade das exportadoras da região e sublinha que, na região, "ainda que com a ajuda das medidas do Governo, o desemprego está tão abaixo do que poderia ser, com números que nos podem orgulhar, e que correspondem ao esforço dos empresários por manter as pessoas de que vão precisar para recuperar".

Desafios globais

As exportadoras portuguesas enfrentam desafios comuns, segundo Miguel Coelho: a concentração de mercados e em setores de atividade. "Veja-se o elevado peso da refinação de petróleo e do setor automóvel de motor a combustão, dois setores com tecnologia ultrapassada e de baixo valor acrescentado", enunciou. "Muito do que precisamos para vencer nas próximas décadas depende de políticas europeias que permitam enfrentar a China e os EUA. O eixo da Europa tem estado na Alemanha, que hoje produz tecnologia do século passado. A Europa não deu a volta, não investiu em I&D e tem de preparar já o futuro sob pena de não recuperar", alertou.

Vendas para duas dezenas de países cresceram 11% em ano de pandemia

A empresa de desenvolvimento de software à medida Critical Software está a fechar as contas de 2020 com mais 11% de exportações no volume de negócios global de 64 milhões de euros. A maioria (85%) corresponde a exportação de serviços, com destino a duas dezenas de mercados. Entre os mais importantes, Pedro Murtinho destaca a Alemanha (29%) e o Reino Unido (26%). "Nos últimos três anos, as exportações cresceram, em média, 27% por ano", reconheceu o diretor financeiro da empresa sediada em Coimbra, com escritórios em Porto, Lisboa, Viseu, Vila Real, Tomar, Reino Unido e Alemanha. "Sofremos algum impacto de clientes afetados pela pandemia, como a aviação, mas outros trabalharam bem, como os transportes (temos projetos da ferrovia no Reino Unido, EUA, Alemanha, Suíça, Suécia), a energia, a banca e seguros e telecomunicações", resumiu o responsável. A explicação para o êxito da Critical Software em 2020 poderá estar na "necessidade de dar continuidade ou até acelerar os projetos de transição digital em que as empresas investiram nos últimos anos".

Erika Nunes