Cristina Azevedo

Centralismo (take n)

A Direção do JN decidiu suspender a minha colaboração semanal com efeitos a partir desta data. Não posso e não quero deixar de agradecer, penhorada, a fantástica oportunidade de ter podido pertencer a um quadro de cronistas historicamente ilustres e de ter feito parte de um Jornal que há mais de cem anos vê o país a partir do Norte.

Republico, nestas circunstâncias, um texto que escrevi em 2019, mas que pode sempre servir de guia prático na luta por um país mais igual.

"Portugal, país macrocéfalo" é um livro escrito por um jornalista, Manuel da Silva Costa, em 1966, que vinca, segundo o autor "(...) a profunda dissemelhança [imposta pelo gigantismo de Lisboa] (...)".

Os dados de há 55 anos não deixam dúvidas: o nível de vida em Lisboa excede em 90% o da média nacional; no ano fiscal de 1965, o distrito de Lisboa liquidou 48,7% do total da contribuição industrial, 162 vezes mais do que Bragança; 53,4% da tributação sobre a aplicação de capitais em 1965 foi cobrada no distrito de Lisboa; em janeiro de 1964, o poder de compra dos habitantes do distrito de Lisboa é o triplo da média aritmética de dezasseis outros distritos; dos 2666 km de estradas em macadame (1964) - a ser substituído por betuminoso -, apenas 25 km eram no distrito de Lisboa (distrito de Bragança, 297 km; distrito de Castelo Branco, 285 km; distrito de Braga, 269 km; distrito de Viana do Castelo, 142 km); dos 341 049 automóveis ligeiros e pesados registados a 31 de dezembro de 1964, 282 198 estavam registados na Direção de Viação de Lisboa; em 1964, dos 525 921 postos telefónicos contabilizados, 52% encontravam-se no distrito de Lisboa; para números entre 1960-1962, Lisboa apresentava, proporcionalmente à população, seis vezes mais profissionais liberais, técnicos e equiparados, oito vezes mais diretores de empresas e quadros administrativos superiores, nove vezes mais médicos e 32 vezes mais engenheiros exercendo profissão liberal;

Da nota prévia: "Se desta síntese descritiva (...) o leitor concluir que é preciso travar a macrocefalia, a fim de que o desenvolvimento económico de amanhã não sirva apenas a uma área restrita do país (...), justificar-me-ei por ter ousado este trabalho".

*Analista financeira

Cristina Azevedo