Economia

Marcelo ouve CEO de empresas milionárias. "Unicórnios" querem mais tecnologia e economia aberta

A Farfetch é uma marca mundial na moda de luxo e novas tendências. É a empresa portuguesa mais valiosa Rui Oliveira / Global Imagens

As quatro empresas nacionais que valem mais de mil milhões de euros estão a ser recebidas em Belém. Marcelo quer ouvir visões "disruptivas".

A pandemia ainda não foi totalmente vencida, mas o relançamento da economia ocupa cada vez mais as prioridades do presidente da República. E o Plano de Recuperação e Resiliência pode servir de mote para uma mudança de paradigma. Por querer ouvir personalidades com visões "mais disruptivas", Marcelo Rebelo de Sousa está a receber os CEO das quatro empresas-unicórnio portuguesas (valem mais de mil milhões de euros) e de outras duas startups de sucesso. A inovação pode ter vindo para ficar.

Em comum, os quatro "unicórnios" nacionais - Farfetch, OutSystems, Talkdesk e Feedzai - têm o facto de terem surgido "do nada", impulsionados por empreendedores pouco experientes. Agora, tornados CEO, lamentam o ambiente empresarial pouco competitivo de Portugal e elogiam o dos EUA. Também valorizam a tecnologia, o conhecimento e o mercado livre.

Os CEO dos três primeiros - a Feedzai só é "unicórnio" desde março - já admitiram ter tido "muita sorte" durante os percursos. E, quer o sucesso se explique pela sorte, pelo talento ou por ambos, os resultados estão à vista: segundo o "Expresso", no final de abril, as quatro empresas já valiam 40% do PSI-20 - ou seja, quase 26 mil milhões de euros. Dos encontros em Belém tem saído pouca informação. Mas, olhando para intervenções anteriores destes CEO, é possível aferir algumas das suas linhas de pensamento sobre o país.

Nuno Sebastião, líder da Feedzai, orgulha-se de dirigir o único "unicórnio" com sede em Portugal. E, em março, lembrou o ministro da Economia disso mesmo quando, no Twitter, Siza Vieira felicitou a empresa por ter atingido os mil milhões de dólares em valor: "Se quiseres, depois falamos das coisas que temos de melhorar para ser competitivos com Londres/NY, Luxemburgo, Amesterdão [sic]", acrescentou.

Facilitar despedimentos

José Neves é o CEO da Farfetch - a mais valiosa das quatro, avaliada em quase 15 mil milhões de euros. Em 2020, à TVI, disse ser necessário melhorar as "competências digitais" dos cidadãos para atenuar o desemprego. Os países "periféricos" como Portugal, referiu, "desenvolvem-se através da propriedade intelectual e do conhecimento".

Paulo Rosado, CEO da OutSystems, entende que as empresas são "mal vistas" em Portugal. Em abril, à RTP, defendeu que os despedimentos deveriam ser facilitados para que estas "possam emagrecer e aumentar de uma maneira muito mais flexível".

Tiago Paiva, da Talkdesk, disse à "Exame" que as empresas nacionais são pequenas e "muito focadas no país". Em breve, os "unicórnios" poderão passar a ser seis: a Defined Crowd e a Unbabel também foram recebidas por Marcelo. As audiências terminam no fim do mês.

Destaque destaque As seis empresas recebidas centro

Farfetch - 14,9 mil milhões de euros

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Em 2008 era um site. Hoje, tem sede fiscal em Londres e filiais em Nova Iorque, Tóquio ou Xangai. Vende moda de luxo e tem 4500 funcionários. José Neves defende um mercado liberalizado, mas aplaude as injeções de dinheiro na economia durante a pandemia.

Outsystems - 7,9 mil milhões de euros

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Criada em 2001, em Lisboa, está sediada em Boston, EUA. É especializada em plataformas para o desenvolvimento de aplicações. Paulo Rosado lamenta que Portugal tenha poucas empresas e os jovens sejam "mal pagos". Os melhores "vão para fora e perdemos talento".

Talkdesk - 2,5 mil milhões de euros

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Especializada em lidar com clientes à distância, está no top 100 da "Forbes" de empresas que usam a "cloud". Criada em 2011, tem sede nos EUA: Tiago Paiva elogia a "mentalidade" do país onde existe "vontade de ganhar". Em Portugal, diz, há "medo de investir".

Feedzai - 1,1 mil milhões de euros

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Lidera o mercado do combate ao crime financeiro através da Inteligência Artificial. Nuno Sebastião quer manter a sede em Coimbra para melhorar o "ecossistema" empresarial do país. Diz que os outros "unicórnios" só têm "sucursais de desenvolvimento" em Portugal.

Defined Crowd - menos de mil milhões de euros

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Em 2019, Daniela Braga afirmou que esta empresa de análise de dados através da Inteligência Artificial levaria dois anos a tornar-se "unicórnio". Ao "Observador", disse faltarem "condições fiscais" para reter investidores em Portugal. Não quer que o PRR ajude "a cauda do país".

Unbabel - menos de mil milhões de euros

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Criada em 2013, faz tradução com recurso à Inteligência Artificial. No início da pandemia despediu 35% dos 266 trabalhadores, decisão "indesejável", mas "necessária". Ao "Dinheiro Vivo", Vasco Pedro saudou a cultura de "constante experimentação" dos EUA, onde a Unbabel tem sede.

João Vasconcelos e Sousa