José Tribolet

Infraestruturar o Portugal autárquico digital - II

A recente evolução das responsabilidades autárquicas, decorrente da transferência de responsabilidades da administração central para a administração local, coloca com acuidade e urgência acrescidas a problemática da infraestruturação do digital autárquico.

Sempre me incomodou a forma autista como as autarquias foram respondendo aos desafios informáticos, equipando-se com hardware, software e pessoal próprio, sem tirarem partido do facto de que muitas das problemáticas e necessidades existentes são comuns a várias delas, pelo que a sua satisfação a partir da agregação destas necessidades permitiria menores custos de investimento e operacionais, e potenciava melhores soluções.

É penoso constatar a irracionalidade da multiplicidade de arquiteturas informáticas, soluções aplicacionais e suportes operacionais existentes no mundo autárquico, sendo legítimo exigir-lhes que aproveitem o momento especial em que vivemos para tirar partido da experiencia acumulada, adotando modelos agregados de infraestruturas e serviços digitais autárquico a partir das melhores soluções já testadas no terreno, racionalizando a prestação de serviços e valorizando os escassos recursos humanos especializados disponíveis.

Este tipo de configuração infraestrutural deveria decorrer de uma estratégia sistémica para o "Portugal digital autárquico", elaborada pelas autarquias e não decorrente das imposições do poder central ou imposta pelas regras de financiamento europeu.

Espanta-me a ausência de pensamento e ação nestes domínios por parte da Associação Nacional de Municípios Portugueses, entidade que tem uma posição privilegiada para induzir a formulação sistémica da estratégica digital autárquica e de promover a conciliação das vontades para se ultrapassar o pensamento individualista e feudal que preside às realidades da politica autárquica atual.

Aqui fica lançado o desafio para os líderes das autarquias, das comunidades intermunicipais, da Associação Nacional de Municípios Portugueses e da Associação Nacional de Freguesias agirem sistemicamente a bem do país.

*Professor catedrático distinto jubilado do IST. Fundador e investigador emérito do INESC

José Tribolet