Três pessoas morreram, ontem, segunda-feira à tarde, numa adega do concelho de Coimbra, intoxicadas por dióxido de carbono libertado de um tanque onde fermentavam uvas. Duas vítimas terão morrido ao tentarem ajudar quem caiu primeiro.
"O Ângelo saltou para dentro do tanque, para salvar o Fernando Carvalho, e a Isilda jogou-se também, para ver se salvava algum. Uma desgraça!", comentou Manuel Francisco, um dos quatro vizinhos que ainda acorreram em auxílio das vítimas. Já as encontraram inanimadas e o INEM, quando chegou à localidade de Rio de Galinhas, na freguesia de Almalaguês, também nada pôde fazer.
Foi impossível confirmar, com certeza absoluta, a descrição que Manuel Francisco fez do acidente, uma vez que ninguém o presenciou. Mas sabe-se que Manuel Carvalho, de 64 anos, era quem estava dentro do tanque, a encher recipientes de engaço (cachos de uvas desprovidos de bagos) para retirá-lo dali e espremê-lo. Do lado de fora, estava o casal Isilda e Ângelo Rosado, de 72 e 74 anos, dono da casa.
Foi nesta altura que a irmã de Isilda, de 79 anos, se afastou da pequena adega, para ir tirar o leite às cabras. Ao regressar, viu as luzes acesas mas não ouviu ninguém, pelo que se abeirou do tanque, que tem cerca de 1,70 metros de altura, e deparou-se com os três corpos deitados sobre o engaço.
"Estão todos mortos!", gritou a idosa, ao bater à porta da vizinha, Sara Oliveira. Esta alertou o INEM e a vizinhança, que ainda correu riscos, ao retirar os corpos do tanque. "Basta que o Abel está em casa a receber oxigénio", notou uma idosa, Cremilde Sequeira, sobre um dos homens que saiu em socorro das vítimas.
Rio de Galinhas é uma zona agrícola, onde se faz muito vinho. Isilda e Ângelo Carvalho produziam-no há mais de 40 anos, e Fernando Carvalho, que morava em Almalaguês e fora ajudar aqueles seus amigos a Rio de Galinhas, também sabia da poda. Todos eles terão, no entanto, subestimado a falta de arejamento da adega, cujas janelas não estariam bem abertas, e o calor do dia de ontem.
"Na fermentação do vinho, o açúcar transforma-se em álcool e provoca a libertação de dióxido de carbono. E, se estiver calor, a volatilidade do dióxido de carbono é maior", explicou o enólogo Pedro Soares, que valida ainda a sabedoria popular exprimida por Cremilde Sequeira, vizinha do casal Rosado: "Este ano, os vinhos têm muita força, muito álcool, e intoxicam muito".