Associação quer vender casa dada por benemérita para um museu em Ligares. Aldeia está indignada mas a corporação diz que não tem dinheiro.
A população de Ligares, Freixo de Espada à Cinta, promete não baixar os braços para impedir a venda de uma casa que a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários (AHBFEC) do concelho recebeu em 2010, através da herança de uma benemérita da freguesia, Veneranda Martins, e cuja Direção pretende alienar. O assunto vai ser discutido terça-feira numa assembleia-geral dos Bombeiros. A população de Ligares está disposta a marcar presença e a fazer ouvir a sua voz "para impedir a venda de algo doado para o bem da aldeia, pois em testamento ficou lavrado que o imóvel devia servir para instalar um museu", garante o presidente da Junta, Ademar Bento.
O autarca é o espelho "da indignação" da população. "A menina Veneranda Martins, como era conhecida, era a segunda pessoa mais rica da aldeia e deixou os seus bens à Associação dos Bombeiros. Ficou em testamento que deveria ter como destino a criação de um museu com artefactos locais e do seu espólio. Deve ser respeitada a sua vontade. Aliás, a placa instalada na fachada pela anterior Direção da associação quando a menina era viva indica essa intenção", sublinhou o autarca, que mostra disponibilidade para apoiar uma solução que viabilize a manutenção do imóvel nas mãos dos bombeiros para posterior recuperação.
Casa em cascais pagou dívida
A Associação dos Bombeiros tem outro entendimento. Em 16 de julho de 2020 aprovou a venda em assembleia-geral. Num aviso público de 4 de maio de 2021, a associação publicita a intenção de vender a casa localizada na Rua da Amargura, em Ligares, fazendo saber que está "aberta a receber propostas de possíveis interessados". Porque, segundo o presidente da Direção, Edgar Gata, os bombeiros não têm dinheiro para restaurar o edifício que se está a degradar e as diversas tentativas para encontrar entidades que quisessem apostar na recuperação do imóvel falharam. "A casa é património dos bombeiros e estes devem beneficiar dele", afirmou o homem que desde 2015 preside à Direção, e que já foi contactado por dois interessados em comprar a casa.
Quem não se conforma com a eventual alienação são os habitantes. "Que construam aqui um museu, uma casa de turismo rural ou algo para atrair turistas e dinamizar a aldeia", propõe Wagner Sousa, proprietário de uma casa em Ligares.
ainda deixou 50 hectares
Da herança constava ainda outra casa, em Cascais, que acabou alienada pelo tribunal para pagar uma dívida relacionada com obras no quartel dos bombeiros, cujo edifício é propriedade do município. "O tribunal vendeu o imóvel para saldar a dívida ao empreiteiro, porque a casa estava hipotecada. A decisão foi aceite, sem recurso", explicou Ademar Bento.
Veneranda Martins, natural de Ligares, decidiu deixar a sua fortuna à AHBFEC, através de um testamento datado de 25 de julho de 2003 e executado em 2010. Além das casas de Ligares e Cascais, a herança incluía 50 hectares de terrenos agrícolas, que a associação dos bombeiros explora.