Ilustrador falou com o JN sobre desafio de transformar romance de Eça de Queirós numa novela gráfica.
"Os Maias", a obra mais conhecida de Eça de Queirós (1845-1900), romance imprescindível para se compreender um determinado Portugal do século XIX, é lançado esta semana numa versão em banda desenhada integrada na coleção "Clássicos da Literatura em BD".
Sílvia Reig, da editora Levoir, recorda que o projeto nasceu de um desafio lançado pela RTP, para que fosse editada "uma coleção que atraísse as novas gerações para a leitura. A divulgação dos clássicos torna-se mais atraente por ter uma perspetiva visual e atual, em banda desenhada".
Com nove volumes já editados, alguns dos quais entretanto esgotados, a responsável reconhece que "os leitores têm aderido bem à proposta e vários títulos foram selecionados para o Plano Nacional de Leitura".
Apesar de a coleção ser baseada numa ideia francesa, "sendo um lançamento em Portugal, era importante ter romances nacionais". A escolha recaiu sobre "obras de referência da literatura portuguesa, de Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco".
resumir o essencial
A primeira escolha, "Os Maias", estará à venda esta terça-feira, dia 24, num álbum assinado pelo espanhol Canizales, "excelente ilustrador, com um estilo muito próprio e distinto".
Ao JN, o desenhador confessou que "não tinha a sorte de conhecer o romance original, pelo que esta foi uma ótima oportunidade para mergulhar nele". Reconhece "que foi um grande desafio condensar uma história tão complexa em 45 páginas de BD" e que teve receio "de não estar à altura de uma obra tão importante para a língua portuguesa". "Ao fazer uma adaptação, estou a mostrar como visualizei a aparência das personagens e dos lugares, como senti os acontecimentos e as emoções descritas na história".
Canizales leu o romance, viu a série e o filme, consultou blogues e artigos, e teve a colaboração do autor José de Freitas "na seleção de algumas cenas importantes para a história e no fornecimento de alguma iconografia". De resto, diz o autor ao JN, "Canizales captou perfeitamente a linha narrativa principal de Os Maias"
E o desenhador complementa: "A adaptação ficou com um ritmo rápido, que por vezes tentei atenuar. Mas era fundamental que a banda desenhada fosse um produto de leitura agradável, mais do que tentar condensar nela todo o romance original". E conclui: "Acredito que esta adaptação contribuirá para a divulgação da obra junto das novas gerações".
Se o romancista gostaria desta versão, é outra questão. José de Freitas pensa "que Eça não aprovaria a conversão de grandes romances em BD". No entanto, "como amigo de Bordalo Pinheiro, um dos precursores da BD em Portugal, talvez se deixasse influenciar e aceitasse". Quanto a Canizales, considera que se Eça "entendesse as limitações do formato e do número de páginas, poderia apreciar o grande esforço feito para manter os elementos essenciais da história".