Nacional

Comissão trava base de dados sobre refugiados

Plataforma ConheSer+visa facilitar processo de integração em Portugal Patrícia de Melo Moreira / AFP

CNPD alerta para agregação de informação de "extrema sensibilidade" sobre acolhidos em Portugal.

A Comissão Nacional para a Proteção de Dados (CNPD) chumbou a criação da plataforma ConheSer+. A iniciativa, que reúne o Alto Comissariado para as Migrações, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e o Instituto de Segurança Social, pretende agregar toda a informação sobre os refugiados acolhidos em Portugal. A CNPD considera que a plataforma não pode ser instituída através de protocolo. Tem de ser definida por lei.

O objetivo é criar uma nova base de dados sobre os refugiados em Portugal, de forma a melhor articular o processo de acolhimento e a eliminar "barreiras processuais". Nesse sentido, será estabelecido um protocolo entre várias entidades, como o Alto Comissariado para as Migrações, o SEF e a Segurança Social. Porém, a plataforma não convenceu, para já, a CNPD que, num parecer emitido no passado dia 26, alega que o protocolo entre as três entidades necessita de "intermediação legislativa" e não tem "fundamento de licitude" de outro modo.

Nesta base de dados constariam informações dos requerentes de asilo, como o "registo do projeto de vida de cada" um, o "respetivo agregado familiar até à fase de autonomização" e "a identificação de movimentos secundários", como saídas do país. Contudo, a comissão defende que há "dados de extrema sensibilidade" relativos a "convicções religiosas e filosóficas, raça e etnia, saúde", a que se teria de encontrar "condição de licitude".

Para o Alto Comissariado para as Migrações, o SEF e a Segurança Social, a ConheSer+ daria origem a um "modo colaborativo de trabalho", estando prevista a transferência de dados para o Conselho Português para os Refugiados (CPR), a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e outras entidades da sociedade civil, dedicadas ao acolhimento. Além disso, a plataforma prevê a possibilidade de produção de dados estatísticos acerca desta população.

Titulares vulneráveis

A CNPD entende que não basta haver um protocolo entre as três organizações referidas. Tratando-se de um "universo alargado de titulares de dados especialmente vulneráveis", é exigido um "específico e especialmente garantístico enquadramento legislativo".

Por precisar ficam várias questões, como a responsabilidade conjunta das entidades e a definição dos meios no tratamento dos dados pessoais dos refugiados. O pedido de parecer, feito pelo Alto Comissariado para as Migrações, veio acompanhado da avaliação de impacto sobre a proteção de dados. A CNPD adianta que a "análise de risco" está condicionada, por não se conhecer, por exemplo, a aplicação informática que vai dar suporte à plataforma ou se haverá serviços subcontratados.

Sexto país com mais requerentes de asilo

Nos últimos anos, e ao abrigo de vários programas internacionais, o país recebeu 2807 refugiados, de acordo com uma nota divulgada em junho pelo Governo. Portugal é o sexto estado-membro da União Europeia que mais requerentes de asilo recebeu ao abrigo do Programa de Recolocação. Recentemente, 61 afegãos foram acolhidos, depois da tomada do poder, em Cabul, pelos talibãs.

Rita Neves Costa