A PSP recebeu queixa e o Ministério Público investiga alegadas agressões de urologista de Santarém, pai de atriz de televisão. Queixosa garante que só pediu menos barulho ao vizinho.
Ana Maria Dionísio, de 57 anos, queixa-se de ter sido agredida pelo médico Paulo Russo Corceiro, no dia 3 de maio deste ano, na Urbanização Encosta das Cortezes, em Santarém. A vítima, reformada por invalidez, conta que foi pontapeada nos rins, quando foi bater à porta da casa do médico - que é pai da atriz de televisão Margarida Corceiro, namorada do futebolista João Félix - justamente para lhe pedir paz.
"Desde o início da pandemia que ele me ofende e ameaça de morte, por lhe pedir para fazer menos barulho em casa dele, e naquele dia subi ao primeiro andar para tentar resolver o conflito a bem", conta ao JN Ana Dionísio, que terá sido malsucedida: "Ele encarou-me, ameaçou-me e, quando virei as costas para ir embora, desferiu-me um pontapé nos rins". O médico nega tudo.
A mulher foi assistida no hospital e diz que, devido a dores, ainda hoje tem acompanhamento médico. "Ele é urologista, sabia muito bem onde me atingir, para me fazer sofrer, e fê-lo", afirma a vítima.
Ana Dionísio apresentou queixa na PSP, que já concluiu a sua investigação, com base, designadamente, nos exames feitos no hospital. O caso está no Ministério Público de Santarém, que pode deduzir acusação contra o arguido, decretar a suspensão provisória do processo ou arquivar o inquérito.
Para já, o Tribunal de Santarém atribuiu o Estatuto de Vítima a Ana Dionísio, apurou o JN junto da PSP. Tal estatuto permite, por exemplo, dar às vítimas um equipamento conhecido como "botão de pânico", mas a mulher diz desconhecer aquela atribuição, observando que, desde a sua queixa, nunca foi contactada pelas autoridades.
Ameaças de morte
A mulher não encontra motivos para as agressões, mas acusa: "Ele é violento por natureza. Um dia, passou por mim, à entrada do prédio, e disse que era uma mulher morta às mãos dele". "Já fiz várias queixas à PSP, porque ele me confronta diariamente e, numa das vezes, em junho do ano passado, os agentes tiveram de o retirar da porta da minha habitação, quando tocava insistentemente e me ameaçava de morte", conta. "Ele queria que o meu marido saísse para fora de casa para o agredir".
A mulher diz que também fez duas queixas por aqueles factos, que, a confirmarem-se, constituirão eventuais crimes de ameaça.
Contraditório: médico afirma que caso foi arquivado, PGR diz que não
Paulo Russo Corceiro nega qualquer agressão ou ameaça à vizinha Ana Maria Dionísio. "Esse processo foi arquivado pelo Tribunal de Santarém", afirmou o médico ao JN. Perante esta informação, o JN questionou a Procuradoria-Geral da República (PGR). "O inquérito encontra-se em investigação", respondeu fonte oficial da PGR. De resto, Paulo Russo Corceiro não quis comentar o caso, afirmando apenas que a queixa "não tem fundamento", tal como as alegadas ameaças de que Ana Maria Dionísio diz ter sido alvo desde o início da pandemia.
Queixa à Ordem dos Médicos
Ana Maria Dionísio participou o caso à Ordem dos Médicos. O Conselho Disciplinar da Zona Sul está a apurar os contornos do sucedido e já pediu à denunciante a cópia da apresentação de queixa na PSP contra o médico.
Silêncio do Conselho Disciplinar
O JN perguntou ao Conselho Disciplinar da Zona Sul da Ordem dos Médicos se já ouviu o clínico, mas aquele não deu resposta. Ficou também por esclarecer se existem pendentes outros processos contra o urologista.