Freguesia do concelho de Valpaços promete festa de arromba quando o selecionador voltar à aldeia para onde foi viver aos oito anos.
É junto ao televisor da sala que Judite Gomes confessa: "Até tenho os olhos inchados de tanto chorar". Choro do bom. De felicidade. Lágrimas da mãe de Jorge Braz, o selecionador nacional de futsal. Lágrimas choradas a sós, porque foi assim que, anteontem, viu o jogo em que Portugal bateu a Argentina por 2-1 e venceu o Mundial da modalidade.
Ontem, voltou a emocionar-se. Primeiro ao ver a receção à seleção no Aeroporto de Lisboa. Depois com o acolhimento no Palácio de Belém, onde treinadores e atletas foram condecorados pelo presidente da República. Um turbilhão de emoções que agora se acalmam, mas que ganharão nova vida quando Jorge voltar à terra que o acolheu, Sonim, concelho de Valpaços, após os primeiros oito anos vividos no Canadá
Judite, 72 anos, não conseguiu ver o jogo da final sentada no sofá. "Andei sempre para trás e para a frente. Só ia espreitar quando ouvia mais barulho". A tal ponto sofreu, que ainda lhe passou pela cabeça um desabafo deste género: "É bom que o meu filho não faça mais mundiais, senão ainda me mata do coração".
E isto apesar de ter a "certeza de que Portugal ia ganhar" o campeonato. Não era agora que lhe ia faltar a santinha, Mãe de Jesus, que está numa capelinha que a irmã mandou construir em 2005, em Sonim. "Vou lá todos os dias. No domingo fui durante o dia e voltei lá já depois de o Jorge me ter telefonado por volta das dez da noite". Antes do jogo foi pedir sorte para a seleção. Depois dele, foi agradecer.
Pela certa, Sonim há de voltar a ter festa quando o herói voltar. Os amigos já lha prometeram. "Se quando ganhou o Europeu de futsal se comeu um porco no espeto, o mundial vai valer uma vitela", supõe Judite. "Até já andam para aí a comentar que tem de se fazer uma estátua ao Jorge, mas eu já disse que é preciso ter calma".
Por agora é preciso afogar o "tanto sofrimento" que anteontem se passou no café Quinta do Gago. A João Teixeira quase lhe "saltava o coração fora" quando os argentinos atiraram ao poste no último segundo do jogo. Mas "eles podiam chutar quanto quisessem que Portugal ia ser campeão de qualquer maneira", frisa Paulo Costa. "O Jorge já tinha dito "vamos ganhar", portanto já estava escrito que ia ser assim", remata.
PERFIL
De "atrás das pedras" ao topo do Mundo
Quando, com oito anos, deixou o Canadá para se fixar em Valpaços, Jorge Braz ainda não sabia como essa decisão lhe mudaria a vida. Foi daí, de "atrás das pedras", como o próprio diz, que se meteu ao caminho para se tornar numa lenda do futsal. Estudou em Chaves, licenciou-se em Desporto e apaixonou-se pelo futsal. Passou pela Universidade do Minho e pela Fundação Jorge Antunes, antes de se tornar adjunto de Orlando Duarte na seleção. Também já esteve à frente da seleção feminina e foi eleito o melhor selecionador do Mundo em 2018, 2019 e 2020. Em 2021, manterá esse estatuto, claro.
Jorge Gomes Braz
Idade: 49 anos
Cargo: Selecionador de futsal