António Tavares

A liderança do PSD

"Em política, nada é definitivo, nada é sem risco", Francisco Sá Carneiro in a Tarde 13.11.1979.

No próximo dia 30 de janeiro, Portugal vai eleger um novo primeiro-ministro. Poderá ser o dr. António Costa, de certeza com um Governo, em versão mais reduzida, preparado para negociar apoios parlamentares.

Poderá ser o dr. Rui Rio, com um Governo sem ministérios desnecessários e com a necessidade de elevar a capacidade técnica e política.

Ganha aqui importância avaliar de que forma o líder do PSD estará preparado para assumir o lugar de primeiro-ministro. Desde logo porque soube criar o que chamou Conselho Estratégico Nacional, onde dezenas de quadros bem preparados oriundos da sociedade civil, das universidades e das empresas refletiram sobre as reformas que devem ser propostas ao país.

Ao mesmo tempo porque conseguiu ganhar eleições internas, estando alinhado com a sensibilidade e o desejo de mudança do país, não ficando refém de quaisquer grupos, sejam organizados ou informais, não prometendo nada a ninguém.

O perfil de Rui Rio aproxima-se muito dos de Francisco Sá Carneiro e de Aníbal Cavaco Silva. Ambos não tinham consigo os média, os fazedores de opinião, e tiveram sempre necessidade de conquistar e, depois, unir o PSD, conduzindo-o à vitória.

Rui Rio ganha de repente a atenção e o respeito de muitos dos portugueses e vai apresentar-se às eleições como uma verdadeira alternativa ao PS. Como costuma dizer, é no centro e no centro-esquerda que estão os votos que dão a vitória. Por isso, o voto útil vai funcionar nestas eleições, para azar dos restantes partidos.

Quem estiver triste com o PS vai dar uma oportunidade ao PSD e permitir formar um governo que possa fazer as reformas que Portugal, por exemplo, exige na justiça, na saúde, na segurança social ou na educação.

Os desafios que se colocam à sociedade portuguesa assentam todos num pressuposto: para distribuir temos, primeiro, de produzir. Para isso, devemos convocar as empresas e as demais instituições para ajudarem na definição de uma nova política de rendimentos e acentuar a expressão exportadora com valor acrescentado.

Simultaneamente, não podemos esquecer os desafios da transição digital e das alterações climáticas numa Europa à procura do seu espaço na globalização das economias.

Rui Rio tem a oportunidade histórica de transformar as dificuldades da sua liderança na afirmação de uma nova agenda para Portugal. Uma agenda reformista, inovadora e de afirmação de um novo ciclo político ambicioso, porque "em política nada é definitivo, nada é sem risco".

Professor Universitário de Ciência Política

António Tavares