Felisbela Lopes

Que campanha eleitoral teremos?

Por estes dias, vamos conhecendo os cabeças de lista dos diferentes partidos pelos vários círculos eleitorais às próximas eleições legislativas. Nem sempre as escolhas resultam dos melhores critérios. Isso é um velho problema, mas há outro que convém resolver este ano: a campanha eleitoral. Janeiro será um mês de contenção de contactos físicos, o que obrigará a criar outra comunicação política com os cidadãos.

Em Portugal, as campanhas eleitorais estão excessivamente dependentes da cobertura jornalística dos média tradicionais, sobretudo dos canais de televisão. Ora, se por um lado, as audiências dos programas de informação continuam a baixar e as gerações mais jovens não veem televisão, por outro, em janeiro os habituais "números" ensaiados no terreno estarão limitados por falta de público para contracenar. As caravanas precisam então de repensar esta volta pelo país. Para que a mensagem política seja efetiva junto da população e as iniciativas tenham outro alcance, e substância.

Ninguém sabe como estará o país depois do Natal, mas seguramente que a semana de contenção anunciada pelo primeiro-ministro vai travar algumas movimentações. É certo que nesse tempo as direções dos partidos estarão mais ocupadas com os debates promovidos pelos diferentes média, mas a nível local há uma campanha que estará já em pré-aquecimento. Por isso, convém fazer uma preparação cuidada de tudo.

Poder-se-á dizer que ninguém gosta das campanhas eleitorais. Os cidadãos olham-na com indiferença, os políticos como um dever a cumprir e os jornalistas como trabalho a fazer. No entanto, trata-se de um momento importante nas nossas democracias e que, por isso, deveria ser aproveitado para se intensificar o diálogo entre eleitos e eleitores.

Havendo tantos candidatos em cada círculo eleitoral, seria profícuo criar microesferas públicas de discussão de temas diversos. Mesmo em contextos de distanciamento físico, as tecnologias (redes sociais e plataformas) ajudam a juntar pessoas. Em círculos mais pequenos, seria também útil deixar de lado as habituais peregrinações pelos confrades do costume e dedicar mais tempo às pessoas cuja vida de todos os dias tanto tem a dizer aos políticos.

Há ainda que saber articular lógicas nacionais com locais. Mas um candidato a primeiro-ministro nunca pode esquecer o quanto será útil para si conhecer o país real que governa e de como isso agrada às populações. Que proveitoso seria se houvesse uma campanha mais interessada nas pessoas e mais empenhada em dessacralizar poderes instituídos.

Professora associada com agregação da UMinho

Felisbela Lopes