Bragança

Falta de rede móvel impede acesso ao 112 em Bragança

Manuel Mouro Nogal só consegue telefonar através da rede espanhola. E critica a falta de atenção dada a Guadramil e Petisqueira Glória Lopes/JN

Diagnóstico da Anacom revelou que uma em cada seis chamadas não é concluída com sucesso em Bragança.

Guadramil é a aldeia de Bragança com piores comunicações móveis no concelho, onde nem sequer é possível fazer uma chamada para o número nacional de emergência 112, porque não há sinal de rede. Nem portuguesa, nem espanhola.

É por essas e outras que Albertina Perpétua, 91 anos, não tem telemóvel. "Não preciso dele para nada, porque aqui não funciona", conta a idosa que conserva o telefone fixo, que usa quando quer telefonar à família ou acionar o 112, que vai passar a ser transfronteiriço no que respeita à deslocação da equipa de emergência mais próxima e mais adequada à situação.

As dificuldades de acesso à rede móvel são confirmadas por Helena Barrigão, 80 anos, que também não tem telemóvel e explica que só "os mais novos" os usam, mas que andam sempre à cata de rede. "Vão até ao alto do monte para telefonar", diz. Na prática vão até uma zona alta da estrada de acesso a Bragança, para encontrarem o sinal do roaming da operadora espanhola Orange.

A falta de acesso a tecnologias necessárias é do conhecimento da Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) que, entre 8 e 17 de novembro, realizou o diagnóstico da Avaliação do Desempenho de Serviços Móveis e Cobertura GSM, UMTS e LTE no concelho de Bragança, a pedido do município.

Sem cobertura

O estudo revelou que as localidades de Guadramil e Petisqueira, aldeias vizinhas e encostadas à fronteira, "não têm disponibilidade de cobertura de rede móvel de operadoras nacionais ou através de roaming". Contudo, o JN verificou que em Petisqueira, na União das Freguesias de S. Julião e Deilão, o serviço de roaming funciona, embora mal, através da Movistar.

Manuel Mouro Nogal tem telemóvel há pouco mais de um mês. Quem lhe trouxe de Espanha foi a filha . "Dá para falar porque apanha a rede espanhola", conta. Em Guadramil vivem 18 pessoas e em Petisqueira pouco mais de 20. "Ninguém saber de nós, porque somos poucos e não damos lucro", critica Manuel.

O diagnóstico da Anacom confirmou que uma em cada seis chamadas de voz não consegue concluir-se em Bragança e que 17% são falhadas (12% perdidas e 5% abandonadas).

O presidente da Anacom, Cadete de Matos, confirmou os problemas, referindo que "é típico nos concelhos junto da raia usar o roaming espanhol". Mesmo assim, nem sempre funciona bem.

"A qualidade não tem os parâmetros que as pessoas necessitam, mas é preferível ter esta rede do que não ter nenhuma", admitiu o responsável, sublinhando que nos centros urbanos a qualidade da rede é muito melhor do que aquela verificada nas aldeias e nos meios rurais.

"É uma situação que tem que ser corrigida, porque há zonas em que não é possível fazer uma chamada para pedir auxílio para o 112. É uma situação gravosa. Esta é a prioridade", observou Cadete de Matos.

PORMENORES

Diagnóstico

A avaliação em Bragança foi feita entre os dias 8 e 17 de novembro, com uma amostra de 1572 chamadas de voz, 378 sessões de dados e 127 713 medições de sinal rádio. Os técnicos percorreram 660 quilómetros.

Falta de sinal nos 7%

A Meo tem sinal inexistente em 7% das amostras e a qualidade muito má ou má em 18%. O sinal da Nos é inexistente em 5% das amostras e a qualidade muito má ou má chega aos 32%. No caso da Vodafone, em 3% da amostra o sinal é inexistente e a qualidade muito má ou má em 24%.

68% de cobertura na Nos

A Nos é a operadora com pior serviço de acesso à Internet, apenas 68% da cobertura, seguida da Vodafone com 77% e da Meo com 79%. Em vários locais os utilizadores acabam por usar o roaming das operadoras espanholas.

Oito diagnósticos

A Anacom fez oito diagnósticos a nível nacional. Quatro em concelhos transmontanos (Miranda do Douro, Vimioso, Vinhais e Bragança), Mondim de Basto (Vila Real), dois municípios de Leiria e ilha de Santa Maria (arquipélago dos Açores).

Glória Lopes