Porto

Bispo do Porto reclama património para a Igreja

Com estes trabalhos, a igreja de São Gonçalo ganhou luz Miguel Pereira/Global Imagens

Prelado, que presidiu à inauguração das obras de restauro do convento de São Gonçalo, em Amarante, questiona o facto de o "Estado laico" deter templos religiosos.

O bispo do Porto, D. Manuel Linda, questionou, na segunda-feira, a legitimidade de um "Estado laico possuir e usufruir mais dos lugares de culto que a própria Igreja".

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Falando "em completa liberdade e sem qualquer ressentimento" na cerimónia de inauguração das obras de restauro do convento e igreja de São Gonçalo, em Amarante, o prelado lembrou que já se passaram "quase 200 anos após as extinção das ordens religiosas e da nacionalização dos seus bens".

D. Manuel Linda deixou, a seguir, três interrogações: "Justifica-se que um Estado laico seja proprietário de igrejas, conventos e outros centros de culto? Comprova-se que esses bens são colocados mais ao dispor da população do que se fosse da Igreja? O Estado preserva melhor o património que a Igreja?". No final do discurso, e desafiado pelo JN a explicar melhor estas questões, nomeadamente se se só referia ao Mosteiro de São Gonçalo, o bispo recusou responder.

Bom para espetáculos

O convento agora restaurado é monumento nacional desde 1910 e a sua gestão é condicionada pelas diretrizes da Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN). É também um local utilizado pelo Município de Amarante para a realização de espetáculos.

"Tem uma excelente acústica e pretendemos continuar a utilizar a igreja. Com esta obra concluída, Amarante está mais "princesa do Tâmega"", exultou José Luís Gaspar, autarca local.

A execução da obra, promovida pela paróquia em parceria com a Câmara foi acompanhada pela DRCN, teve um custo de cerca de dois milhões de euros, cofinanciados pelo Norte 2020 que é gerido pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N).

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Na ocasião, o presidente deste organismo, António Cunha, referiu que as obras são um dos 222 projetos de investimento em património histórico e cultural avaliados pela CCDR-N e que no total "representam 200 milhões de euros de investimento, comparticipados em 138 milhões de euros".

A reabilitação e restauro do mosteiro e da igreja incluiu não só o edifício (coberturas, pisos, paredes, infraestrutura de iluminação e áudio), mas também um conjunto vasto de peças artísticas como retábulos, esculturas, pinturas e painéis de azulejos. A igreja foi também dotada de conteúdos informativos digitais.

A capela de São Gonçalo, na capela-mor, onde se encontra a imagem de São Gonçalo da Corda, passou a estar acessível. O novo altar foi desenhado pelo escultor Paulo Neves e traz modernidade ao templo, algo que chegou a ser contestado nas redes sociais.

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Quilos de pó

Foram retirados durante a limpeza e restauro do altar-mor da igreja de São Gonçalo. O templo nunca tinha tido uma intervenção de fundo desde a sua inauguração, no século XIV. A igreja estava em risco de incêndio e de derrocada, nomeadamente no que respeita à cobertura.

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"Houve uma intervenção global em toda a igreja e espaços complementares, alguns dos quais até agora inacessíveis ao público" - Joana Araújo, Arquiteta

"A igreja, desde o século XVI até ao XX, foi sempre acrescentada com peças do seu tempo. Deixamos a marca deste século no novo altar-mor" - José Manuel Ferreira, Pároco

"A Fundação Manuel António da Mota tem o propósito de perpetuar a memória do meu pai. Foi isso que aqui fizemos. Dou os parabéns a todos" - António Mota, Mecenas