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Ikea corta subsídios por doença aos funcionários não vacinados

Funcionários da Ikea não vacinados e em isolamento recebem só 25% do salário Orlando Almeida / Global Imagens

Marca sueca impõe medida punitiva no Reino Unido. Valor da baixa médica implica corte salarial de 75%. Em Portugal, os subsídios são pagos na íntegra.

A Ikea está a cortar o valor das baixas médicas de vários funcionários não vacinados contra a covid-19, e que faltem ao trabalho por estarem em isolamento. A medida, em vigor nas lojas da marca do Reino Unido, aplica-se aos que testaram positivo na doença do novo coronavírus e também aos que entram em isolamento preventivo (mínimo: 10 dias) devido a contactos de alto risco.

Esta política significa que o grande retalhista sueco de móveis se junta a uma lista crescente de empresas que estão a adotar uma política mais dura para funcionários que recusem a vacinação contra a doença respiratória.

O novo coronavírus é altamente infeccioso e atirou o mundo para a atual pandemia, que dura há quase dois anos e já provocou 311 milhões de casos de covid e 5,5 milhões de mortos em todo o mundo.

A Ikea tem mais de 10 mil funcionários no Reino Unido e fez saber que reduziu para o mínimo legal o valor do subsídio por doença desse grupo de trabalhadores não vacinados. Esse valor é, agora, de 96,35 libras por semana (cerca de 115 euros; o valor mensal do apoio perfaz, assim, 460 euros).

Trata-se de um corte de 75% no salário. Em média, um funcionário da Ikea recebe por mês 1600 libras (1900 euros) ou 400 libras por semana (480 euros semanais). A notícia foi revelada esta semana pelo jornal tabloide "The Mail on Sunday".

Mais empresas estão a cortar

O governo do Reino Unido descartou, em agosto de 2021, o auto isolamento devido a contactos de alto risco de covid-19. A Ikea disse que a sua abordagem à matéria mudou após setembro do ano passado e que os indivíduos ausentes do trabalho seriam agora considerados "caso a caso".

A empresa de serviços públicos de abastecimento de água e esgotos Wessex Water, também do Reino Unido, adotou uma medida semelhante quanto ao valor das baixas médicas, juntando-se a empresas como a cadeia de supermercados Wm Morrison, que já reduziu também o subsídio aos seus funcionários não vacinados.

O mesmo está a acontecer em grandes empresas dos Estados Unidos, como o gigante bancário Citigroup, cuja política é mesmo "sem vacina, sem emprego", ou a companhia de aviação Delta Airlines, que agravou o valor dos seguros de saúde aos funcionários não vacinados, que agora têm que pagar uma taxa extra se quiserem continuar a trabalhar sem proteção contra a covid.

Em Portugal a baixa é paga a 100%

No nosso país, onde a Ikea tem mais de 2500 funcionários, nenhum destes cenários se verifica. "A situação na Ikea Reino Unido não se aplica a Portugal", confirmou ao JN a assessoria de imprensa da empresa sueca a operar em Portugal. E os funcionários que não desejem ser vacinados, recebem na mesma o seu salário por inteiro.

"Apesar de a Ikea Portugal defender a vacinação como medida para que, em conjunto, se proteja a saúde de todos, não tem qualquer medida restritiva em relação aos colaboradores que optaram por não se vacinar, seguindo, assim, a lei do nosso país", disse a assessoria em resposta escrita ao JN.

"Relativamente aos pagamentos, a Ikea Portugal paga a 100% quem está em isolamento profilático e as pessoas infetadas recebem a sua baixa médica regular", concluiu a mesma fonte.

Riscos legais e para a saúde pública

O corte de 75% no valor das baixas médicas no Reino Unido é um "tema emotivo", disse a Ikea britânica à BBC, revelando que a sua política "necessitou de evoluir com a mudança das circunstâncias da pandemia".

Isto ocorre numa altura em que muitas empresas lutam com ausências em massa de funcionários devido a doença e custos crescentes no processo de trabalho. De resto, a Ikea anunciou no final de 2021 que iria aumentar o preço dos seus produtos de venda ao público em cerca de 9% "devido a interrupções contínuas no fornecimento de matéria-prima e também da rede de transportes".

Segundo o Chartered Institute of Personnel and Development (CIPD), uma associação de profissionais de gestão de recursos humanos, há prós e contras nesta mudança dos termos de pagamento por doença a certos trabalhadores.

Por um lado, pode incentivar os trabalhadores a vacinarem-se, aumentando assim a proteção global contra a covid-19. Mas, por outro lado, pode haver pessoas que decidam testar-se menos ou mesmo a não entrar em isolamento para não verem o seu salário reduzido a 25% do valor total.

A orientação oficial da CIPD é não diferenciar funcionários, pois as consequências podem ser complexas e dar azo a problemas legais.

Não faltar para não perder dinheiro

No início de janeiro, David Josephs, do retalhista alimentar All Greens, disse à BBC que funcionários de algumas empresas estavam a ignorar as regras da covid por razões financeiras.

"Sabemos que, no nosso setor, muitos funcionários não recebem o subsídio de doença na íntegra. Os nossos recebem -- mas os funcionários com contratos a termo ou que recebem o salário mínimo não podem dar-se ao luxo de faltar ao trabalho", disse o retalhista.

Sarah Ozanne, especialista inglesa em direito do trabalho, também alertou, em declarações à BBC, para questões legais complexas e disse que é difícil encontrar o equilíbrio certo.

"Esta ação [da Ikea] parece mais uma reação à falta de pessoal do que qualquer 'discriminação' para com os não vacinados", disse a advogada.