Kiribati não é notícia na Imprensa internacional sequer quando o rei faz anos, porque é uma república. Em 2006, despertou a curiosidade da Comunicação Social por criar a terceira maior reserva marinha do Mundo, para proteger a biodiversidade, sua única riqueza. Por estes dias, voltou a ter direito a um ou outro pé de página, graças à Cimeira de Copenhaga. Pelo simples facto de, como pátria, estar a morrer todos os dias, à medida que o nível do mar sobe, por causa do aquecimento global.
Na perspectiva mais optimista, os especialistas dão às 33 ilhas do arquipélago de Kiribati, dispersas ao longo de milhares de quilómetros, meio século de vida, até que a sofreguidão do oceano Pacífico as apague do mapa. Os cerca de 100 mil habitantes da maior nação-atol do mundo vivem da agricultura, da pesca e de algum turismo, ainda que fora das rotas principais. Não têm culpa dos gases de efeito-estufa que os países desenvolvidos emitem quase sem freio. Mas estarão, juntamente com o vizinho Tuvalu ou as ilhas Maldivas, no Índico, entre os primeiros países a afundar-se, se nada for feito - e de imediato - para reduzir as emissões.
Na cimeira das alterações climáticas, a aliança de 43 estados insulares de que os três fazem parte exigiu medidas para limitar a 1,5 graus o aumento da temperatura no Planeta. Tuvalu apresentou o seu próprio exemplo: só a subida de 0,8 graus ocorrida no último século foi suficiente para, em maré alta, submergir o aeroporto. Ainda não se sabe ao certo o que vai sair de Copenhaga - se um Protocolo de Quioto remendado, talvez um pouco mais ambicioso, se uma mão cheia de nada, outra de coisa nenhuma. Sabe-se é que a maior parte dos países faz orelhas moucas aos apelos desesperados destas pequenas ilhas, paraísos a perder-se, vergados a interesses alheios.
Os países ricos não estão dispostos a puxar os cordões à bolsa para que os países eufemisticamente chamados "em desenvolvimento" possam recorrrer a tecnologias mais limpas. E potências emergentes como a China, a Índia e o Brasil só admitem contribuir para o esforço comum na exacta medida da sua condição. E no caso de os mais fortes - EUA à cabeça - assumirem compromissos efectivos.
Uma soma de egoísmos, evidentemente, nunca pode resultar na multiplicação de solidariedades. É por isso que, no fundo da tabela, os estados insulares hão-de continuar a sofrer secas, tempestades, ciclones e tsunamis, perante a indiferença geral. Em batalha permanente contra a erosão costeira, o Governo de Kiribati, seguindo o exemplo das Maldivas, já começou a comprar terrenos na Indonésia, para realojar a população. O povo é forçado ao exílio. Antes que fique com água pelo pescoço.