Velas

Três mil pessoas aconselhadas a deixar casas em São Jorge

Em caso de evacuação, o tocar dos sinos servirá de alerta à população António Sousa/Lusa

Alguns moradores já saíram dos locais onde vivem. Governo Regional dos Açores diz que se mantém hipótese de uma erupção na ilha. Deformação da crosta terrestre visível por satélite.

O Governo Regional dos Açores está a aconselhar as três mil pessoas que vivem nas freguesias de Velas, Manadas e Urzelina, em São Jorge, a saírem das respetivas localidades e a dirigirem-se para a outra ponta do território ou, mesmo, para outras ilhas onde tenham habitação ou familiares. O conselho foi deixado depois de, na quarta-feira, o nível de alerta vulcânico ter subido para V4 (num total de cinco possíveis), o que significa que existe hipótese de erupção. Alguns moradores já estão a usar a via marítima para deixar a ilha.

Fonte da Secretaria Regional da Saúde, que tutela a Proteção Civil, adiantou ao JN a existência de "alguns indicadores preocupantes, que mostram que a tendência será mais para o magma sair do que para acalmar". A essa informação junta-se "a cadência dos sismos e uma deformação na crosta terrestre, que é visível por satélite". O conjunto de dados levou o Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA) a elevar para V4 o nível de alerta vulcânico. O V5 só pode ser acionado em caso de erupção. Desde sábado, mais de 2000 sismos já foram analisados pelo CIVISA, dos quais 160 foram sentidos pela população.

"Sem alarmismos"

Devido à gravidade da crise sismovulcânica, o Governo Regional já aconselhou quem vive nas freguesias de Velas, de Urzelina e das Manadas - as mais próximas dos epicentros - a deixar a zona, "sem alarmismos". Para auxiliar quem quer sair, foram deslocados para o aeroporto local mais dois aviões do que o normal - apesar de, segundo a mesma fonte, "todos os aviões da SATA estarem disponíveis" - e, na Base das Lajes, está um avião militar e um helicóptero, para serem acionados em caso de necessidade.

Barcos cheios

O número de navios da Atlânticoline - transportadora que faz ligações entre ilhas - também foi reforçado e estão a acontecer três viagens extra, por dia, entre São Jorge, Pico e Faial. Para já, as viagens são por conta dos habitantes e só serão custeadas pelo Governo Regional em caso de evacuação de emergência. Mesmo assim, nos últimos dois dias, muitos jorgenses têm aproveitado as ligações marítimas para deixar a ilha.

Relatos de habitantes locais, na internet, davam conta, a meio do dia desta quinta-feira, da lotação completa dos barcos que ligam ao Pico e ao Faial. No entanto, muitas pessoas estão a mostrar resistência em sair, por não encontrarem à venda caixas transportadoras para levar consigo os animais de estimação. Para facilitar o processo, a Atlânticoline divulgou, esta quinta-feira, que durante o atual período vai "permitir o embarque de animais de estimação sem caixa de transporte".

Solidariedade

Os moradores da ilha do Pico criaram um grupo no Facebook, que esta quinta-feira já contava com 2300 membros, de modo a poderem ser divulgados locais de acolhimento para quem quer sair de São Jorge. Imediatamente, vários particulares começaram a disponibilizar quatros ou moradias completas. E até quartos de pensões e alojamentos locais estão a ser cedidos. A onda de solidariedade para com os conterrâneos tem feito também com que associações, como o Grupo Folclórico da Casa do Povo da Candelária ou o Agrupamento de Escuteiros 770 das Lajes do Pico, ofereçam as suas sedes para acolher habitantes de São Jorge que queiram deixar a ilha, em virtude da crise sismovulcânica, e não tenham para onde ir.

Salomé Filipe