Universidade de Aveiro indica que as partículas poluentes são causadas por tráfego, indústrias e lareiras.
"A qualidade do ar em Estarreja e na região centro tem vindo a melhorar", particularmente em relação às partículas em suspensão na atmosfera, como as PM10 e PM2.5, poluentes que levantam maior preocupação em termos de saúde. A avaliação foi feita por Myriam Lopes, investigadora do departamento de ambiente da Universidade de Aveiro, a propósito da conferência do Dia Nacional do Ar, há dias, em Estarreja.
Teve em conta um estudo desenvolvido, entre 2005 e 2018, para a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região (CCDR) Centro, assim como uma análise de dados (preliminares) na estação de monitorização de Estarreja até este ano.
A falta da qualidade do ar em Estarreja, município que tem um Quimiparque e é atravessado pela Estrada Nacional 109 e várias autoestradas, como a A29, tem sido notícia por diversas vezes nos últimos anos, com a concelhia do PS a criticar a falta de atuação da Câmara. Mas o autarca Diamantino Sabina recusa as críticas e sublinha que "a qualidade do ar em Estarreja subiu exponencialmente".
600 dias acima da lei
Apesar da melhoria, contudo, na região centro "continuam a existir episódios de poluição atmosférica" e "Estarreja não é exceção", sublinhou Myriam Lopes. Nesta zona do país, de acordo com os dados das estações de monitorização, é "em Aveiro e em Estarreja que se registam geralmente concentrações mais altas de partículas PM10 e PM2.5", em parte devido à sua localização.
Estas partículas, explica Myriam Lopes, estão muito associadas ao "tráfego rodoviário, à indústria e, no inverno, à combustão residencial", feita geralmente por lareiras e outros equipamentos de queima de biomassa.
Em Estarreja, "para as PM10, no período de 2005 a 2022, identificamos mais de 600 dias com concentrações médias superiores aos valores limite" previstos na lei. Já em relação às PM2.5, mais finas e capazes de penetrar até aos alvéolos pulmonares, "foram detetados quase 2000 dias com concentrações superiores às recomendadas pela Organização Mundial de Saúde" (OMS), entidade que faz recomendações mais restritivas que o previsto na legislação, especifica a investigadora.
Fenómenos de inverno
De acordo com Myriam Lopes, "40% destes fenómenos aconteceram nos meses de janeiro e fevereiro, ou seja, são episódios de inverno que têm em conta as condições meteorológicas e as fontes". "Quando está mais frio é quando acendemos as lareiras. Também é quando há condições meteorológicas adversas, que não permitem uma boa dispersão dos poluentes".
Muitos destes episódios, acrescenta ainda, "estão associados a fontes naturais, como o transporte de poeiras do deserto, e aos incêndios", tendo-se verificado que, nestas alturas, as "concentrações sobem muito significativamente"
PSD e PS trocam críticas
O PS de Estarreja critica a forma como o presidente da Câmara, Diamantino Sabina (PSD), desvaloriza os dados da estação de monitorização ao dizer que "não é credível". Já em janeiro os socialistas alertaram que a estação tinha assinalado níveis acima da classificação "perigoso", lamentaram o "deixa andar" e defenderam que Estarreja precisa de "indústria que cumpra a legislação".
Diamantino Sabina realçou que "apenas há no país 23 estações que medem partículas como as PM 2.5, uma das quais junto à secundária do município". "Se aumentássemos os medidores da qualidade, se calhar Estarreja ficava numa posição mediana ou abaixo do meio", pelo que é "injusto" o enfoque constante em Estarreja, disse.
Existem nove estações de monitorização da qualidade do ar na região centro, que fazem parte de uma rede espalhada pelo território nacional. São geridas pelas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional.
As partículas em suspensão, como as PM 10 e PM 2.5, têm composto que são tóxicos e, ao serem inaladas, chegam aos pulmões, aponta a OMS. Podem contribuir para cancro do pulmão, AVC, problemas cardíacos, doença pulmonar obstrutiva crónica, entre outras.