Costa-elogia-Marcelo-e-Marcelo-elogia-Costa foi uma das mais entoadas cantilenas políticas da passada legislatura.
Mesmo quando a corda parecia esticar, e não foram assim tão poucas as ocasiões, o primeiro-ministro e o presidente da República encontraram sempre uma luz patriótica que os guiasse até ao caminho das tréguas. De resto, a relação de ambos extravasou a dimensão institucional, sobretudo durante a pandemia, em que o seu alinhamento em torno das medidas restritivas da liberdade dos portugueses foi determinante para termos conseguido navegar nos mares da paz social.
Agora, com a maioria absoluta do PS, o fantasma do quero, posso e mando assomou à janela. E o ascendente de Marcelo sobre um Governo à prova de oposição ganhou renovada premência. Importa pouco especular sobre quão musculada poderá ser uma hipotética força de bloqueio com origem em Belém. Importa, sim, relevar que, em circunstâncias normais, o horizonte político que se estende até 2026 será ocupado por uma dupla que tem revelado ser a supercola do regime.
A sondagem que publicamos hoje, a primeira desde que o Executivo foi empossado, espelha bem a resistência olímpica dos principais atores políticos de Portugal da última década. Marcelo gostava de olhar para a Direita com outra confiança, mas o permanente estado de sobressalto interno em que vive o PSD, conjugado com a longa travessia no deserto a que estarão obrigados, não augura grandes perspetivas. A Esquerda à esquerda do PS viverá o mesmo calvário, porque tenderá a ficar acantonada no reduto da reivindicação que é sempre o melhor conforto eleitoral.
Por tudo isto, Costa e Marcelo continuarão a ser uma jovial cantilena na atual legislatura. Para o bem e para o mal, o país continuará entregue a eles. Costa-elogia-Marcelo-e-Marcelo-elogia-Costa. Parece fácil, não parece?
*Diretor-adjunto