Cultura

Sexo, mentiras e milhões de dólares

Renée Zellweger é uma capitalista sem escrúpulos em "What if?" D. R.

"What if?", minissérie de dez episódios, evoca o filme "Proposta indecente" para questionar o valor dos nossos próprios princípios. Pode ser vista na Netflix.

A ideia base recorda o filme "Proposta indecente" (1993), de Adrian Lyne, que se tornou famoso -e chocou muita gente: Robert Redford na pele de um multimilionário, oferecia um milhão de dólares a Demi Moore para passar a noite com ele.

Agora, os tempos são outros, as mentes mais abertas, e em "What if?" (2019) os papéis invertem-se e é Anne Montegomery (Renée Zellweger), uma capitalista sem escrúpulos e escritora de sucesso, que convida Sean (Blake Jenner) por uma noite, em troca de um investimento de 80 milhões de dólares na startup biomédica criada pela sua esposa, Lisa (Jane Levy). Após muitas reticências, o casal cede, embora pressionado por uma cláusula incómoda: Sean nunca poderá revelar a Lisa o que acontecer naquela noite.

Inevitavelmente, a relação do casal vai deteriorar-se, amizades de uma vida serão abaladas, o ambiente familiar da empresa de Lisa vai desvanecer-se, levando-a a questionar a opção tomada. Mais do que isso, irá repensar quem é e até onde é capaz de ir para retomar a sua vida anterior, acabando por se aproximar perigosamente do modo de ser de Anne.

O argumento dos dez episódios da minissérie, que aqui e ali abriga surpresas, é composto com histórias paralelas que dão consistência a uma premissa que, por si só, seria curta e contém momentos menos convincentes, ao mesmo tempo que traça um retrato negro da indústria farmacêutica.

O grande mérito da proposta acaba por recair nas interpretações do trio principal e de alguns dos coadjuvantes. Renée Zellweger sobressai pela forma convicta como dá vida a uma personagem forte, amoral e odiosa, que subiu à própria custa - e à custa dos outros.

A personagem de Jane Levy, movida pela missão de encontrar a cura para o cancro que vitimou a irmã, permite que a atriz vá alterando a sua personalidade, ultrapassando a fragilidade e os escrúpulos para espelhar uma daquelas mudanças a que as agruras da vida às vezes obrigam.

Quanto a Blake Jenner, de certa forma percorre um trajeto inverso, passando de alicerce do casal a alguém oprimido pelo peso dos segredos que esconde.

F. Cleto e Pina