Equilíbrio é a chave para o futuro da humanidade, aponta o professor e diretor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto.
Um dos temas em destaque na conferência será a proteína. Tendo em conta o impacto da produção animal, uma das fontes de proteína, onde podemos ir buscar este elemento tão importante?
A proteína é um nutriente essencial na alimentação humana. As proteínas organizam o funcionamento de praticamente todo o organismo. Para ter uma ideia, podemos ter proteínas que são constituintes básicos das nossas fibras musculares, do cabelo, dos ossos ou da pele. Estão em alimentos como a carne, mas não só. Também estão nas leguminosas, no feijão, nas ervilhas, no arroz e em algumas verduras.
Mas nem todos os alimentos dão ao corpo a proteína de que precisa...
Não. As proteínas são constituídas por variações de aminoácidos, mas há nove que são essenciais e que não são produzidos pelo nosso organismo. Basta que um deles não seja ingerido em quantidade suficiente que vai influenciar a absorção dos outros. Por exemplo, o leite é um alimento muito completo neste aspeto porque é muito rico em proteína. Se for para uma proteína vegetal como o arroz - que contém pouca lisina, um dos aminoácidos essenciais -, a escassez de lisina limita a ação e absorção dos outros aminoácidos. Isto quer dizer que se só consumir arroz fico sem a quantidade diária de proteína que necessito de ingerir, ao passo que se beber leite consigo mais facilmente ter essa ingestão proteica adequada.
Como é que conseguimos esse equilíbrio?
Os vegetais podem ser incompletos a nível dos aminoácidos, mas, se juntarmos vários, aquilo que falta num pode estar no outro. Se juntar lentilhas e arroz, já consigo ter uma proteína mais completa e mais absorvida. É isso que discutimos neste momento, porque produzir proteína de qualidade [como a carne] é relativamente caro para o ambiente. Caro no sentido em que consome grandes quantidades de energia, terreno e há grande libertação de gases com efeito de estufa. O grande desafio é saber como é que conseguimos continuar a consumir proteína de qualidade, mas com uma forma de produção com reduzido impacto ambiental. Para chegarmos a esse equilíbrio, temos de construir padrões alimentares que sejam saudáveis e protetores do nosso planeta.
Seguindo esse raciocínio, os regimes vegan e vegetariano não são equilibrados? Poupam no ambiente, mas não são necessariamente os mais saudáveis?
Os produtos de origem animal têm um impacto ambiental muito elevado, especialmente porque os consumimos em quantidades muito elevadas. Posto isto, há diferentes maneiras de produzir esses alimentos e nem todos os modos de produção têm o mesmo impacto ambiental. Vale a pena perceber, e isso será discutido nesta conferência, quais são os métodos que são mais eficientes e mais sustentáveis. Podemos substituir produtos de origem animal por outros de origem vegetal, mas sabemos que, no caso da proteína, precisamos de ter muitos conhecimentos e grande disponibilidade e variedade de alimentos para conseguirmos ter proteínas de qualidade. Por exemplo, algo que parece tão simples como ervilhas com ovos escalfados e arroz é uma refeição com bastante proteína. Completando com o ovo, ainda mais. Não é tanto retirar a proteína animal, mas utilizá-la como complemento aos pratos de base vegetal.
Isso é especialmente importante numa altura em que a população mundial aumenta?
Tanta gente a comer e a consumir recursos é algo que nunca aconteceu antes. Estamos numa fase de mudança na história e, pela primeira vez, corremos risco de extinção. Portanto, as soluções que temos não é a olhar para o passado, porque as soluções do futuro vão romper com o que fazíamos. E é disso que vamos falar na conferência.