Nacional

Centros de saúde geridos por privados para resolver problemas pontuais

Unidades de saúde familiar modelo C, geridas por privados ou pelo setor social, serão solução para regiões mais carenciadas de médicos de família Arquivo

O ministro da Saúde admite legislar para permitir a criação de centros de saúde geridos pelos setores privado ou social. Esta será uma das medidas que integrará o pacote de soluções prometido pela nova equipa ministerial para melhorar o acesso dos portugueses à saúde nas regiões mais carenciadas de médicos de família. Apesar deste modelo estar previsto na legislação desde 2007, nunca avançou.

Na audição das comissões parlamentares de Orçamento e Finanças e de Saúde, no âmbito da apreciação na especialidade do Orçamento do Estado (OE) para 2023, que decorreu esta tarde de terça-feira, Manuel Pizarro referiu que serão apresentadas medidas estruturais e conjunturais para aumentar o acesso dos utentes aos cuidados primários e que as USF modelo C "farão parte da equação" se ajudarem a resolver o problema.

Questionado pelo Bloco de Esquerda sobre se equaciona legislar para que estas unidades possam funcionar, o ministro respondeu afirmativamente. De imediato, a deputada Catarina Martins assinalou a mudança de rumo do Partido Socialista e acusou Manuel Pizarro de querer privatizar esta área da saúde. "É a entrega a empresas privadas dos cuidados de saúde primários", reagiu a bloquista.

"Se surgir um grupo de médicos de família reformados que se quer organizar em USF-C para dar resposta a determinada população, devo recusar?", questionou Manuel Pizarro. O ministro garantiu que a solução é para "um período transitório" e apenas para "algumas localidades".

Impacto das carreiras em 2022

A questão das carreiras médicas e da dotação inscrita no OE 2023 para custos com pessoal foi outro tema que dominou parte do debate.

O ministro desvalorizou o facto de aquela rubrica contemplar apenas mais 153,3 milhões de euros do que a deste ano, explicando que há despesas de 2022, como as da descentralização e também custos com a pandemia, que não se deverão repetir em 2023.

Referiu ainda que está com expectativa de que "algumas das negociações em curso", como as dos sindicatos dos enfermeiros para a reposição dos pontos da carreira, tenham efeitos ainda em 2022 e não se traduzam num aumento significativo dos custos em 2023.

E deu o exemplo do recente aumento do valor da diária em duas tipologias de unidades de cuidados continuados, que terá efeitos retroativos a janeiro.

O Ministério da Saúde continua esta quarta-feira as negociações com os sindicatos dos enfermeiros. Esta quarta-feira serão também retomadas as reuniões com os sindicatos dos médicos e na próxima semana começam as negociações com estruturas representativas de outras profissões do SNS.

As expectativas sobre o desenrolar das negociações não convencem o deputado Pedro Frazão, do Chega, que confrontou o ministro com a "black week de novembro", aludindo às várias greves que estão marcadas este mês, nomeadamente de enfermeiros, médicos, técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica e técnicos de emergência pré-hospitalar.

Fechos sem impacto

Os resultados em saúde materno-infantil de 2022 ainda não foram divulgados, mas o ministro da Saúde garantiu que não foram prejudicados pelos fechos intermitentes nas urgências e blocos de parto. "Posso garantir que continuamos na liderança mundial em termos de saúde materno- infantil", disse.

Resposta no inverno

No dia em que o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, registou picos na urgência provocados em parte pelo desvio de doentes de outros hospitais da região, o ministro anunciou que o plano dos hospitais para responderem ao aumento da pressão no inverno será apresentado na próxima semana, após a reunião de peritos sobre a evolução da pandemia, que vai ocorrer na sexta-feira, em Lisboa.

Evitar idas ao hospital

Cerca de 150 mil doentes que periodicamente levantam medicação nos hospitais vão beneficiar do projeto de dispensa de proximidade e aviar os fármacos na farmácia perto de casa.

Lisboa replica modelo

O modelo de urgência metropolitana que funciona no Porto há cerca de uma década "com resultados muito favoráveis" será replicado em Lisboa, anunciou Pizarro.

Internalizar exames

A internalização de meios de diagnóstico e terapêutica no SNS poderá trazer vantagens financeiras e por vezes ajuda a fixar profissionais, como é o caso dos radiologistas. A ideia não é generalizar mas avançar com alguns projetos, disse o ministro.

Inês Schreck