Não gostei mesmo nada de ver o presidente da Câmara de Lisboa a sacudir a água do capote usando a desculpa da moda das alterações climáticas, para justificar todos os problemas ocorridos em Lisboa numa noite de chuva intensa.
Umas das razões por que não gostei nada desta desculpa esfarrapada é desde logo porque essa desculpa, além de esfarrapada, era absolutamente desnecessária. Depois de apanhar a boleia do presidente Marcelo, logo nas primeiras declarações feitas em público com as botas debaixo de água, Carlos Moedas fez questão, e muito bem, de anunciar que, nem de propósito, a Câmara de Lisboa sob a sua presidência tinha acabado de dar o pontapé de saída para a tal resolução do problema estrutural há muitos anos detetado.
Como é público e notório e está na memória de muitos lisboetas (e até de outros que para lá foram), ainda a Greta Thunberg não tinha nascido e já havia muitas e diversas inundações em Lisboa em anos repetidos. Mais do que vir agora eleger as propaladas alterações climáticas como uma das principais razões dos carros submersos, o que Carlos Moedas devia ter sublinhado é que ao contrário de todos os seus antecessores, foi da responsabilidade dele o primeiro passo para a solução desta recorrente questão.
A segunda coisa de que também não gostei mesmo nada foi vê-lo a falar ao país sobre o problema de Lisboa. Sobretudo quando me apercebi de que era mesmo só de Lisboa que ele queria falar, quando ignorou a única vítima mortal que se tinha registado no concelho vizinho. Não me pareceu bem que o novo presidente da Câmara de Lisboa, tão atreito a falar aos lisboetas das coisas em que lhes quer cair em graça, como a Web Summit ou a famosa fábrica dos unicórnios, se ponha depois a falar ao país quando chega a hora das desgraças de Lisboa.
Há quem me explique estas estranhas atuações de Carlos Moedas com as suas eventuais ambições por cargos nacionais que extravasam a cidade a que preside. Valha a verdade que não seria o primeiro presidente da Câmara de Lisboa a tornar-se chefe do Governo ou presidente da República. Mas acho que a razão por acaso é outra e prende-se com um fantasma de Jorge Coelho, que acabou a sua carreira política numa outra noite de cheias, com a desgraça de Castelo de Paiva, em que obviamente não teria tido qualquer culpa. Só que nessa época ainda não estavam na moda as alterações climáticas.
*Empresário