Felisbela Lopes

TikTok: o espião chinês?

A desconfiança de que a rede TikTok pode estar ao serviço de propaganda e espionagem do Partido Comunista Chinês sempre existiu, mas nas últimas semanas vem sendo adensada.

Serviços públicos de vários países (Canadá, Reino Unido, Bélgica, Dinamarca, Finlândia) estão a bloquear o acesso à plataforma. Comissão Europeia e Conselho da Europa adotaram o mesmo procedimento. Será o início do fim desta popular rede?

O TikTok vive entre paradoxos: não há dúvida de que inquieta bastante o mundo ocidental, mas também é inegável a sua enorme popularidade junto dos utilizadores. Nos EUA, supera o YouTube, o Twitter, o Instagram e o Facebook em tempo de utilização por parte dos adultos. E isso preocupa ainda mais Joe Biden que procura agora meios para bloquear o acesso dos americanos a esta aplicação. Num extenso artigo, a revista francesa L"OBS mostrava ontem que o TikTok é a rede que dispõe de dispositivos mais avançados e sofisticados de recolha de dados pessoais. E usa-os, sem haver nisso qualquer poder de controlo.

O grupo ByteDance, que detém esta rede, tem negado a recolha e o uso de dados pessoais dos seus utilizadores. Em vários contextos, lembra que o TikTok não é uma empresa chinesa, já que 60 por cento do seu capital pertence a investidores ocidentais. No entanto, falta esclarecer que relações têm esses empresários com o Partido Comunista Chinês. E falta também lembrar, como bem sublinha L"OBS, que "o conjunto de informações coletadas por esta plataforma é transferido para território chinês através de um servidor da Guizhou BaishanCloud, sociedade financiada pelas autoridades chinesas". A esse nível, a lei chinesa é clara: "qualquer organização e cidadãos devem assistir e cooperar no fornecimento de informação" ao país. Também será pertinente dizer-se que o TikTok e o seu equivalente chinês, de seu nome Douyin, partilham a mesma infraestrutura e o mesmo código informático.

Quer tudo isto dizer que a rede TikTok ultrapassa muito o espaço lúdico que parece candidamente ser. Antes carrega consigo riscos colossais, dificilmente calculados por quem se entretém com os vídeos que aí vê, não imaginando sequer que essas visualizações são manipuladas por complexos algoritmos que controlam, assim, os consumos. Alguns países procuram resolver esse controlo que acreditam ser feito a partir da China, vedando o acesso à aplicação. É um modo. Um outro seria explicar à opinião pública como funcionam certas plataformas. Sabendo mais sobre as redes sociais por onde circulamos, talvez tivéssemos um outro cuidado com os sítios que frequentamos.

*Prof. associada com agregação da UMinho

Felisbela Lopes