Manuel Serrão

As bibliotecas que andam

Longe de mim ter alguma coisa contra o admirável mundo novo das tecnologias, mas é preciso alertar as novas gerações para o enorme perigo de perderem as bibliotecas que andam.

As conversas sem assunto são as melhores para descobrir bons assuntos de que ninguém fala. Foi numa conversa destas com o meu amigo Rui Zink, na ressaca de mais uma gravação do nosso podcast da SIC/Expresso, "A noite da má língua", que ele me recordou o dito na origem da crónica de hoje: "Quando morre um velho em África, é uma biblioteca que arde".

Para os meus estimados e informados leitores não é certamente necessário dizer mais nada mas, já agora, ficamos todos cientes de que esta frase lembra que a sabedoria no continente africano está há muitos anos ligada à experiência de vida. Que naturalmente os mais velhos possuem em doses mais avantajadas, especialmente numa região do Mundo onde a média etária é incrivelmente baixa. Os velhos em África são uma raridade, porque chegar a essa idade é uma coisa muito rara.

Com o advento da era da Internet e do Google (a que se soma agora a Inteligência Artificial e o ChatGPT), instalou-se no Mundo atual a convicção que temos tudo que é possível saber da vida à distância de um clique. Ou, vá lá, dois ou três cliques.

Não vale a pena desvalorizar e muito menos ignorar estas realidades e possibilidades. Mas vale a pena tentar explicar que estas novas tecnologias podem ser muito boas, e até credíveis em muitos casos, quando falamos de informação factual, mas não servem para substituir a experiência de vida associada a esses factos.

Os mais velhos, em África e no resto do Mundo, são bibliotecas que andam. E mal anda a juventude que dispensa o seu conhecimento de experiência feito. Não é preciso que concordem, não é de todo obrigatório que sigam os conselhos, mas é fundamental que percebam que nunca serão capazes de se cruzar com estas bibliotecas ambulatórias nas navegações que fazem nas redes em que vivem.

Fica aqui a dica, para quem quiser saber mais do que sabem os que acham que o dr. Google e amigos é que sabem tudo o que é preciso.

Empresário

Manuel Serrão