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Yuran jogou pelo Benfica e F. C. Porto: "Jogava boxe e futebol com o Paulinho Santos"

Sergei Yuran, avançado russo, touro de compleição física, deixou marca no Benfica e F. C. Porto Arquivo Global Imagens

É hoje o clássico na Luz e, em 88 anos de história da 1.ª Divisão, só um jogador marcou pelos dois clubes em Lisboa. É russo e eternamente bem-disposto.

Yuran, Serguei Yuran. Em 88 anos de Benfica vs F. C. Porto na 1.ª Divisão, só um jogador marcou pelos dois clubes em Lisboa. Insistimos: Yuran, Serguei Yuran. O avançado russo, touro de compleição física e enraivecido de feitio, assina primeiro pelo Benfica em 1992 e, depois, pelo F. C. Porto em 1994. Curiosidade maiúscula, não ganha nenhum dos jogos (derrota por 3-2 e empate 1-1). Apanhamos o homem no sempre atarefado primeiro dia à frente de um clube, o Pari NN, 13.º classificado da 1.ª Divisão russa. Sempre a rir e com um português cauteloso, e de fazer inveja a muito boa gente, Yuran recebe-nos com uma amabilidade XXL.

Está aí o Benfica vs F. C. Porto. O Yuran sabe que é o único que marcou na Luz pelos dois clubes?

Ah! ah! ah!, a sério? Grande, muito obrigado. Não sabia disso.

Mas lembra-se?

Claro, são momentos inesquecíveis, que ficam na minha cabeça até ao último dia da minha vida.

Conte lá, então, os golos...

Marquei três, dois pelo Benfica e um pelo F. C. Porto.

Três? Agora fintou-me.

Ah! ah! ah! Dois para o campeonato e um para a Taça de Portugal.

Ah, para a Taça. Como foi esse?

Penálti, enganei o Vítor Baía. Entrei para o lugar do Rui Águas, se não me engano, e fiz o 2-0. Passámos a eliminatória no jogo de desempate. Nas Antas, o Mostovoi entrou e fez o 1-1 de livre direto nos últimos minutos.

Esse é o jogo da apresentação do Futre?

Grande, enorme jogador. O que ele fazia com a bola! Ah! ah! ah! O que ele fez na final dessa Taça de Portugal com o Boavista.

E os outros dois golos?

O primeiro é pelo Benfica, remate dentro da área, pé esquerdo. Muito forte, sem defesa para Baía, ah! ah! ah! No último minuto, o Timofte fez o 3-2 e garantiu praticamente o título ao F. C. Porto.

E o segundo?

É aquele fora da área, ao Preud"homme.

Grande pontapé.

Recebi de costas e enganei os defesas. Abri um buraco com uma finta de corpo e nem esperei por entrar na área, para não dar tempo de reação ao Preud"homme.

E depois?

Depois? Ah! ah! ah!, depois foi uma alegria enorme.

Mas o Yuran foi expulso e o Benfica chegou ao empate.

Grande alegria, enorme. Fui expulso com dois amarelos [o primeiro é por festejar o golo junto dos adeptos do Benfica, o segundo é por falta sobre Edilson no meio-campo] e aplaudi os adeptos do Benfica. No balneário, já depois do jogo, o Mourinho veio ter comigo e disse-me "Serguei, nunca vi em tantos anos de futebol um jogador a fazer o que fizeste, a sair de campo e aplaudir os adeptos". Ah! ah! ah!

E o Robson?

Grande treinador, grande ser humano. Muito brincalhão. Uma vez, vi-o a atirar-se para o chão no balneário para indicar ao Baía como sair às bolas rasteiras. Muita piada, míster. Uma história divertida.

À vontade.

Nesse dia do meu golo na Luz, lembro-me de o ver alterado no banco com a minha expulsão. Não era comum. Quanto muito, ficava alterado com um golo falhado ou um erro defensivo. Com o árbitro, foi a primeira vez. E só vi as imagens muito depois do jogo. O que me ri! Ele era divertido e foi o melhor treinador da minha carreira [Robson entra em direto para a televisão e diz ao jornalista Francisco Figueiredo, da RTP, "he killed the game, he killed the game"].

O presidente do Benfica é o Rui Costa. Ainda jogou com ele?

Verdade, grande jogador e grande presidente. Gostava muito do Benfica, um grande amor pelo clube. Lembro-me de alguns almoços com ele mais a equipa.

Onde?

Lisboa, Cascais. Onde fosse. Esse Benfica tinha grandes jogadores e pessoas animadas.

Tais como?

João Pinto, Isaías.

Neno?

Ah! ah! ah! Uma vez, ele deu-me boleia a um desses almoços e foi o caminho todo a cantar. Dentro de campo, era muito sério. Fora, totalmente o oposto.

E no F. C. Porto, quem foi a primeira pessoa que o recebeu nas Antas?

João Pinto, o capitão. Recebeu-me a mim e ao Kulkov. Mal chegámos, marcou-nos um jantar a três para essa noite.

E?

O discurso foi simples: "Aqui, o Porto é uma família, não há cá grupos. O objetivo é ganhar, e sempre".

De quem se lembra mais no F. C. Porto?

Rui Barros, Emerson.

Boa, boa.

E, claro, o Paulinho Santos. Ah! ah! ah! Nos treinos, jogávamos boxe e futebol. No jogo, só futebol. Só batíamos na bola, ah! ah! ah! v