Maria de Lurdes Rodrigues

Doutoramentos, para que servem?

Os cursos de doutoramento servem, em primeiro lugar, a formação inicial de investigadores e de docentes do Ensino Superior. São uma absoluta necessidade para o desenvolvimento do sistema científico, para a produção e difusão de conhecimento novo, para a atualização do ensino universitário e, portanto, para a qualidade da formação de novos quadros.

A formação doutoral proporciona tempo e condições para o aprofundamento do conhecimento científico. O trabalho de tese proporciona a aquisição de competências e capacidades de recolha e tratamento de informação técnica, de aplicação do método científico à análise de problemas, de autonomia e gestão de projetos, de colocação dos problemas em contexto, de colaboração com redes internacionais, de comunicação e divulgação de ciência, de compreensão dos impactos sociais da ciência. Os doutoramentos proporcionam oportunidades de formação e de aquisição de competências únicas, distintas de todas as outras experiências de aprendizagem, incluindo as que resultam da experiência profissional.

Tais competências e capacidades são essenciais nas atividades científicas que se desenvolvem nas universidades e nos laboratórios de investigação, mas também na atividade de empresas e organizações públicas. De facto, através da promoção do emprego científico, de um emprego mais qualificado onde se incluem técnicos superiores com níveis avançados de formação, podemos aspirar a melhorias significativas nos processos de estudo, planeamento e decisão na generalidade das organizações.

Está em curso uma mudança nos mecanismos de financiamento da formação doutoral com a exigência de realização de parte das teses em ambiente não académico. A adesão das entidades empregadoras foi significativa - mais de 400 manifestações de interesse junto da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Há dúvidas sobre a capacidade das entidades empregadoras, em que se incluem empresas, hospitais e organismos da administração central e local, para acolherem os doutorandos e os seus projetos. Há dúvidas sobre a salvaguarda do financiamento da formação doutoral em contexto académico, vocacionada para a produção de conhecimento fundamental. E há dúvidas sobre o impacto desta medida no aumento posterior do emprego científico. São dúvidas razoáveis que importa atender. Outras surgirão ainda. Mas o caminho faz-se caminhando e, acrescento eu, promovendo a necessária avaliação do que se faz. Muitas vezes as medidas de política falham não pela inadequação dos seus objetivos, mas porque faltou a avaliação e a monitorização da sua aplicação e dos seus resultados.

*Professora universitária

Maria de Lurdes Rodrigues