Radiografia da costa portuguesa

Praia de Moledo emagrece

O vento Norte ainda sopra com vigor sobre os pedregulhos adossados à magra duna que deriva timidamente entre a foz do Minho e as rochas escalavradas de Moledo.

O bar Vapor, encavalitado em estacaria, marca o início da concessão onde João Monraia vê minguar o areal de ano para ano. "Este ano, foram uns seis metros", calcula, balouçando o olhar entre o talude de pedras, defesa realizada em 2004, e golpeado com rudeza pelo último Inverno e a linha da preia-mar cada vez mais próxima.

Quando muito, instala 75 barracas; há 20 anos, pelo menos 120 eram seguras e sobrava muito areal. E volta aos cálculos, autorizados pela certidão de nado e criado em Caminha há 54 anos e concessionário de praia há 22: em dois decénios, a linha de costa terá recuado 200 metros.

Moledo é a praia de moda do Norte, para onde ruma certa nata da política e da intelectualidade. João Monraia não se contenta com modas, que não são sustento garantido. "Vêm para aqui, tomam um café, lêem o jornal e conversam, estão horas..."

Este ano, teve de instalar o seu primeiro bar - o "Mergulho" - no topo norte do parque de estacionamento, já sobre a duna em recuperação e nas barbas de um enorme e desgastado placard de madeira ostentando ainda o apelo cívico de uma antiga campanha da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte (CCDRN) para a protecção do cordão dunar da área: "Praias no Moledo?... Dependem de si. Cumpra as regras".

A Associação dos Amigos de Moledo não gostou e denunciou o caso. E Monraio reage: não teve outro remédio, porque a praia está a perder-se e, de resto, foi autorizado (ver caixa).

"Moledo tem bandeira azul e é praia de prestígio porque são os condenados dos concessionários que trabalham", nota a mulher, Ana Paula Monraio, 52 anos, professora do ensino básico e sua colaboradora na concessão no tempo de férias, preocupada com e evolução da costa e o desaparecimento da praia da infância ("Era um areal enorme!").

"Mais ano menos ano, o mar vai entrar pela Mata do Camarido. Já bate na vegetação e no Inverno destruiu parte do passadiço a norte e a tendência é para avançar sempre", sentencia.

Augusto Neiva da Silva, 60 anos, empregado da concessão "Café com gelo", no extremo sul da praia, confirma: O areal frontal da Mata do Camarido "recuou bastante, não há dúvida". E aponta a saliência da massa vegetal. Que se lembre dos 23 anos que conhece a zona, "já esteve à frente mais de cem metros".

Em períodos mais curtos, "o areal varia muito, até os patamares do paredão estão tapados pela areia, que vai e vem, e a praia tanto pode fixam grande como pequena. No ano passado esteve espectacular", sustenta. "Estas coisas são cíclicas, umas vezes o mar ou vento levam; outras trazem", conforme as direcções.

Foi o caso de Vila Praia de Âncora, para sul. "Moledo ficou sem areia e aqui aumentou", nota Abia Gonçalves, reformada a fruir o areal encostado ao portinho, robustecido pelas correntes de Sul e de Sudeste.